Untitled - Grumo
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grumo / número 01 / marzo 2003<br />
Comentário sobre a biografia do polaco maldito<br />
Lucas Carrasco *<br />
Uma das soluções que Toninho Vaz, em O BANDIDO QUE SABIA LATIM -<br />
biografia do falecido poeta curitibano Paulo Leminski - apresenta à literatura<br />
contemporânea brasileira, coloca a chamada “geração marginal” com ato con-<br />
tínuo do concretismo. Trocando em miúdos, depois do concretismo, a poesia<br />
marginal; ambos movimentos vividos por Paulo Leminski. A intenção de<br />
Toninho Vaz, no entanto, não é analisar ou discutir a obra do poeta. Ser fonte de<br />
esclarecimentos sobre a vida de Paulo Leminski é a pretensão de Toninho Vaz<br />
em O BANDIDO QUE SABIA LATIM.<br />
O biografado, autor de CATATAU (1975), tem agora sua produção literária<br />
e estilo de vida, baseado na contracultura, mapeados. Para isso, diálogos<br />
ressurgem das bocas de seus interlocutores, escândalos são narrados por quem<br />
os acompanhou de perto e cenas íntimas reproduzidas com fidelidade<br />
desconfiável, mas nem por isso são menos íntimas. Se o estilo preciso de<br />
Toninho Vaz sugere o sensacionalismo, ele se justifica afirmando-me que o<br />
próprio personagem de seu livro era também sensacionalista.<br />
O livro resgata a produção "marginal", buscando o instante e o contexto no<br />
qual ela era concebida. As histórias da convivência entre os poetas daquela<br />
geração são reveladas "a cores", talvez pela primeira vez, para as gerações pos-<br />
teriores de poetas e leigos. Ao mesmo tempo, ao contextualizar a Curitiba de<br />
Leminski, Toninho Vaz procura contradizê-lo (e o afirma no livro), quando<br />
o poeta teorizou sobre as virtudes daquela metrópole. Ele (o Paulo) havia, em<br />
depoimento anterior, destacado a modéstia como "valor artesanal" de seus<br />
conterrâneos. Toninho Vaz, para flagrar a contradição de Leminski e referen-<br />
dar seu argumento, narra uma passagem dos anos 70 em São Paulo, durante<br />
uma mesa-redonda em que o poeta se levantara e saíra da sala, depois de ter<br />
dito ao poeta Cacaso:<br />
Olha, brother, qualquer bar em Curitiba, numa sexta-feira à noite, tem um<br />
nível de discussão mais alto do que o desta mesa! (...) (p.58)<br />
A contradição de Leminski flagrada por Toninho Vaz está, infiro em críticas,<br />
no fato de a modéstia curitibana de Leminski não ter sido expressa de<br />
maneira artesanal (o que Leminski quis dizer com isso, afinal?), como ele<br />
havia afirmado, mas sim de modo pretensioso e impulsivo. [Conforme nota<br />
de Toninho Vaz, na mesa estavam também o músico paranaense Arrigo<br />
Barnabé (do movimento Lira Paulistana), o poeta paulistano Régis<br />
Bonvicino (que o acompanhou na saída da mesa), e "jovens poetas descon-<br />
hecidos" da USP.] Mesmo arquitetando ao seu modo a personalidade de<br />
Leminski e comprometendo, com isso, a interpretação do leitor, Toninho<br />
Vaz, entretanto, apresenta um trabalho valioso para a compreensão do con-<br />
texto cultural daquela geração.<br />
O biógrafo também faz referências ao calhamaço de papéis que Leminski lev-<br />
ava consigo por Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, ou onde fosse. Os papéis<br />
eram os rascunhos do CATATAU, livro que o poeta levou 8 anos para escr-<br />
ever. Aliás, o título dessa obra, CATATAU, também é explicado na biografia.<br />
Os companheiros de Leminski sempre o interpelavam quando o viam car-<br />
regando sua "antologia de guardanapos" e outros rabiscos:<br />
Lá vem o Leminski com aquele catatau embaixo do braço! (p. 109)<br />
C r í t i c a s<br />
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