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Um monstro no ninho<br />
R. Giger (ganhador do Oscar de efeitos visuais), artista suíço, imbatível na representação<br />
do horror associado à maternidade, ao falo e ao erotismo do corpo<br />
feminino, aliado também com o grande desenhista, e igualmente sinistro, Moebius<br />
(Jean Giraud), Scott inscreveu seu filme no território dos pesadelos inesquecíveis.<br />
As imagens de Giger 9 são tão belas quanto insuportáveis. São como os<br />
contorcionismos que os sonhos e os delírios impõem ao nosso corpo, retorcido,<br />
esfacelado, desnudado, transformado e, por vezes, estranhamente misturado à<br />
paisagem. Os episódios seguintes têm as variações estéticas impostas pelos<br />
diferentes diretores, mas o Alien continuará sempre fiel a sua concepção visual<br />
inicial.<br />
A história é a seguinte: num tempo futuro, uma nave espacial de carga<br />
recebe um pedido de socorro e sai de sua órbita para averiguar. A mensagem<br />
provém de um planeta onde há uma misteriosa nave caída e abandonada. Lá<br />
eles encontram os ovos dum ser alienígena, numa espécie de hibernação. Sabese,<br />
ao longo do filme, que os ovos estavam em modo de espera, prontos para se<br />
hospedar num ser vivo e nele terminar seu desenvolvimento.<br />
Como marsupiais, esses seres nasciam de seus ovos ainda necessitando<br />
de um período de “gestação” para completar sua formação; o equivalente da<br />
bolsa fica sendo um corpo hospedeiro. Sua forma de reprodução passa por conseguir<br />
esse hospedeiro, que, no caso, pode ser um humano de qualquer sexo.<br />
Na presença da vítima, ele penetra pela sua boca (ele é ágil, forte, é quase<br />
impossível impedir) e fica nutrindo-se de seu corpo. A morte do escolhido só<br />
ocorre quando o monstrinho está maduro para nascer, e irrompe num “parto” letal.<br />
Os tripulantes da nave vão sendo mortos dessa forma, um após o outro;<br />
o alienígena cresce rápido e já põe mais ovos no interior dos corpos. A tripulação<br />
torna-se gado a serviço da proliferação dessas larvas extraterrestres. Após nascer,<br />
eles rapidamente transformam-se em monstros extraordinariamente resistentes<br />
e agressivos, violentamente empenhados em garantir sua própria reprodução.<br />
Certamente não é casual que a oponente desses monstros seja uma<br />
mulher, a tenente de vôo Ellen Ripley 10 .<br />
9 Confira esse trabalho no livro HR Giger ARh+, editora Paisagem-Taschen, 2004. Ou no site<br />
www.hrgiger.com.<br />
10 Essa opinião é partilhada por Simone Klabin, que assim escreveu em seu artigo A Força de<br />
Alien, postado no site Bolsa de Mulher, em 13 de julho de 2001: “Esse filme foi lançado numa<br />
época marcada por grandes conquistas por parte das mulheres [...]. Obviamente que o cinema,<br />
como veículo de cultura/pensamento popular, também traduziu esses acontecimentos em suas<br />
histórias. Ellen Ripley, a heroína de Alien, simbolizava a mulher guerreira, independente e sobrevivente”.<br />
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