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Revista n.° 34 - APPOA

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Os limites do analisável...<br />

convoca e nos provoca a “afinar” nosso trabalho de escuta, por vezes tão árduo.<br />

Enquanto clínicos, nos ocupamos do sujeito caso a caso, e o espaço das apresentações<br />

nos permite – ao menos é o que tentamos – pensar o praticável, a<br />

partir daquilo que se apresenta no encontro com cada paciente. Lacan nos fala<br />

da clínica como o real impossível a suportar. O que quer que façamos, isso<br />

retorna sempre, no mesmo lugar, sempre resta o inaudível, mas é importante<br />

construirmos o trilhamento dos momentos de giros e voltas que damos em<br />

nossas tentativas de apreensão desse real da clínica.<br />

Sabemos que Lacan manteve as apresentações de pacientes ao longo<br />

de 25 anos de seu ensino – apesar das críticas que recebia por sustentar essa<br />

prática –, como forma de resistência. Resistência na medida em que lhe interessava<br />

sustentar, no espaço mesmo da psiquiatria, a pesquisa clínica, quando<br />

já se anunciava uma psiquiatria nos moldes como a vemos hoje, com tendência<br />

classificatória e de supressão dos sintomas, organizada para tratar a doença,<br />

excluindo o sujeito. Assim como procedeu à releitura de Freud em seus seminários,<br />

através do trabalho em torno das apresentações que fazia, ele interrogava<br />

também a clínica psiquiátrica. Nessa “escuta entre vários”, do que diziam os<br />

pacientes nas apresentações, propunha um modo de pensar os fenômenos da<br />

loucura segundo os fundamentos psicanalíticos.<br />

Através das apresentações, somos testemunhas de uma mobilização<br />

discursiva mais intensa dentro da equipe, em torno do caso a ser levado para a<br />

entrevista. Elas permitem certa visibilidade da construção do caso clínico e<br />

incidem sobre esse processo de construção. À equipe cabe dar seqüência,<br />

portar os efeitos que se produzem no paciente a partir da apresentação, efeitos<br />

que incidem não somente sobre os pacientes entrevistados, mas também sobre<br />

a equipe que deles se ocupa. Vemo-nos às voltas com o que é possível transmitir<br />

a partir dessas intervenções, o lugar da platéia no dispositivo, enfim, com<br />

temas que emergem nesse modo de trabalhar que implica considerar a instituição<br />

psicanalítica como um lugar terceiro, instância a partir da qual pensamos a<br />

nossa prática, os limites, impasses e possibilidades do trabalho com certos<br />

casos, tudo acontecendo numa sucessão de testemunhos que presentificam,<br />

diríamos, a diferença, a alteridade. Nas apresentações, uma série de narrativas<br />

se sucedem, fios discursivos se tecem, tecendo o caso.<br />

Ana Costa (2007), no seu artigo Uma clínica aberta assinala o quanto a<br />

“temática da abertura e a dificuldade da constituição de endereçamento” fazem<br />

parte do cotidiano da clínica pública e o quanto é necessário “diferenciar entre a<br />

queixa sem sujeito e as condições de circunscrição de uma demanda singular”<br />

(Costa, 2007, p.147). Na saúde mental, o grande Outro institucional, anteriormente<br />

encarnado na figura do psiquiatra, continua a ser, ainda hoje, por ele<br />

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