14.04.2013 Views

Revista n.° 34 - APPOA

Revista n.° 34 - APPOA

Revista n.° 34 - APPOA

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

130<br />

Jaime Betts<br />

Na recente mostra retrospectiva de sua obra no Santander Cultural, intitulada<br />

O grão da imagem – uma viagem pela poética de Vera Chaves Barcellos<br />

(2007), os curadores Agnaldo Farias, Fernando Cocchiarale e Moacir dos Anjos<br />

consideram que sua obra coloca aspectos cruciais para a compreensão do<br />

nosso próprio tempo: “O que é o real?” Sobre essa questão perguntam se é um<br />

fato ou uma construção, “um problema de linguagem que, como tal, tanto depende<br />

do mundo como do significado que emprestamos a ele?” (Santander Cultural,<br />

22 fev. 2007).<br />

Os curadores situam a posição como de uma artista conceitual, ou seja,<br />

“a quem interessa mais a idéia que dá lastro à obra de arte do que sua dimensão<br />

material”. Ressaltam também seu “intenso ativismo na defesa da divulgação da<br />

arte experimental como fato político” (ibid).<br />

Nesse sentido, a obra de Vera Chaves Barcellos é uma investigação poética<br />

e política da vida contemporânea e, ao mesmo tempo, um convite para o<br />

envolvimento do espectador, ao propor a obra como parcial, para que o espectador<br />

faça o resto, para chegar ao não-todo.<br />

As cento que catorze (114) obras expostas suscitam interpretações sobre<br />

o que é verdadeiro e o que é falso, o que são as representações e o que são<br />

as coisas, sobre aquele que vê e aquilo que é visto. No presente trabalho, abordaremos<br />

apenas três de suas obras, para levantar algumas questões.<br />

Os curadores afirmam que hoje predominam as indissociações e<br />

embaralhamentos entre aquele que vê e aquilo que é visto, entre a coisa e sua<br />

imagem. “Como sair do impasse?” (ibid), perguntam-se. Sugerem que seja pelo<br />

ataque ao cerne da imagem, pelo descer ao grão da imagem, revelando que tem<br />

certa materialidade, que tem qualidade de reprodução do visível, ainda que não<br />

se confunda com aquilo que representa. Aqui, a experiência do espelho de Lacan<br />

pode nos ajudar a delimitar a questão.<br />

Na tentativa de sair desse impasse, muitas obras de arte contemporânea<br />

procuram expor o espectador o mais diretamente possível a um confronto com o<br />

real. Voltaremos a esse ponto mais adiante.<br />

Lacan ([1962-63] 2005, p. 100) comenta que:<br />

Mesmo na experiência do espelho, pode surgir um momento em<br />

que a imagem que acreditamos estar contida nele se modifique. Quando<br />

essa imagem especular [...] deixa surgir a dimensão de nosso<br />

próprio olhar, o valor da imagem começa a se modificar – sobretudo<br />

quando há um momento em que o olhar que aparece no espelho<br />

começa a não mais olhar para nós mesmos. Initium, aura, aurora de<br />

um sentimento de estranheza que é a porta aberta para a angústia.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!