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Sandra Djambolakdjian Torossian<br />
Não competir com a droga significa, também, suportar as freqüentes “recaídas”<br />
e analisar sua função, suportar o percurso do sujeito pelas drogas, questionando<br />
sua posição, sem estarmos, necessariamente, inseridos num pressuposto<br />
de abstinência. Há casos em que a cura não significa a abstinência, mas<br />
a mudança da posição do sujeito em relação ao tóxico.<br />
A psicanálise angustiada?<br />
A clínica das toxicomanias faz a psicanálise se angustiar. As situações<br />
clínicas levam os conceitos a transbordar. Com escritura semelhante à do remédio-veneno<br />
não podemos deles prescindir. A escuta psicanalítica coloca uma<br />
diferença na escuta das situações de toxicomania, ao escutar o sujeito e não a<br />
droga, ou a dependência. Mas, a todo momento precisa haver invenção de estratégias<br />
de fala, invenção de sujeito. É intenso. O ritmo dos encontros assemelha-se<br />
ao ritmo do consumo. Presenças excessivas, falas que consomem toda<br />
a capacidade de escuta e longas ausências são o ritmo imposto por quem sofre<br />
de toxicomanias. Uma das vias de cura parece ser inscrever uma superfície de<br />
jogo. Um jogo de presenças e ausências, diz Derrida ([1972]1997).<br />
Se há algo que os sujeitos toxicômanos ensinam à psicanálise é que o<br />
movimento é necessário. E então a teoria, assim como as drogas, pode transformar-se<br />
em tóxico, fazendo a psicanálise se consumir. Mas isso não cabe<br />
mais neste texto...<br />
REFERÊNCIAS<br />
BERGERET, Leblanc. Toxicomanias: uma visão multidisciplinar. Porto Alegre: Artes<br />
Médicas, 1991.<br />
BUCHER, Richard. Drogas e drogadição no Brasil. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.<br />
DERRIDA, Jacques. A farmácia de Platão. São Paulo: Editora Iluminuras, 1997.<br />
RASSIAL, Jean-Jacques. O adolescente e o psicanalista, Rio de Janeiro: Companhia<br />
de Freud, 1999.<br />
LE POULICHET, Sylvie. Toxicomanias y psicoanálisis: Las narcosis del deseo. Buenos<br />
Aires: Amorrortu,1990.<br />
WINNICOTT, Donald. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.