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Revista n.° 34 - APPOA

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Um monstro no ninho<br />

criança. Agora a maternidade das duas oponentes, a mãe monstruosa e a humana,<br />

é explícita, elas precisam destruir uma à outra, para salvar suas respectivas<br />

crias.<br />

Dentro desse estilo, de explicitar tudo, há um diálogo entre a menina e<br />

Ripley, no qual, ao ver “nascer” um Alien, a criança pergunta se não é assim que<br />

ocorrem os partos humanos. Na prática é diferente, na fantasia, provavelmente<br />

nem tanto! Em termos de fantasias, o parto evoca um certo temor, associado à<br />

defloração, a qual rompe o hímen para a entrada do pênis. Nesse caso, às<br />

avessas, irrompe do corpo esse bebê, rasgando desta vez para sair.<br />

Um bebê humano, ao nidificar, partilha a corrente sangüínea materna de<br />

forma parasitária, cria um órgão temporário, a placenta, que se incumbirá de<br />

administrar essa sociedade, e modifica todo o funcionamento e estrutura daquele<br />

corpo que ficará à mercê de suas determinações, enfraquecido para outros<br />

fins. Ao nascer, dilatará e contrairá a mãe, conforme as imposições do trabalho<br />

de parto; levará consigo a placenta, acarretando a perda de um órgão, e deixará<br />

o ventre flácido, muito mais vazio do que antes da gestação. As cicatrizes de<br />

sua passagem lembrarão que um ser humano vem de dentro de outro, por mais<br />

difícil que seja acreditar nisso. Dessas evocações carnais da gestação, do parto<br />

e da amamentação temos alguma repulsa, se não as conseguirmos revestir de<br />

algum romantismo, inserir em alguma compreensão, quer seja uma narrativa<br />

pessoal, literária ou científica. De qualquer maneira, o hábito de conviver com os<br />

fatos da reprodução humana, na vida privada, ou por profissão, retira-nos a capacidade<br />

de espanto.<br />

O mesmo ocorre com o sexo, que pode parecer bem insuportável se for<br />

visto como coisa em si: um ser humano coloca seu órgão no orifício do outro,<br />

insere sua língua na boca alheia ou a passa sobre sua pele. Ao ser imaginado<br />

ou observado pelas crianças, o sexo suscita uma série de fantasias estranhas,<br />

muitas delas fruto da sua imaturidade e inexperiência. Porém, mesmo depois<br />

de crescidos, não gostamos de pensar no sexo de nossos pais, nem na intimidade<br />

que tivemos com o corpo da nossa mãe.<br />

Assim como fazemos com o paladar, ritualizando e enriquecendo o ato<br />

da alimentação, o erotismo reveste a realidade puramente física do sexo de<br />

significados que o tornam transcendente e que representam relações de afeto,<br />

poder e construção de identidade sexual. A maternidade, da mesma forma, precisa<br />

ser inserida num contexto de significados subjetivos para que possa ser<br />

suportada pela futura mãe.<br />

Colocados de forma crua, a gestação e o parto poderão suscitar fantasias<br />

como as de Alien, em que a mãe é uma poedeira, e o feto, um parasita<br />

destruidor. Uma gestação desejada ou inserida em algum tipo de expectativa<br />

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