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Revista n.° 34 - APPOA

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162<br />

Marianne Stolzmann Mendes Ribeiro<br />

A existência da angústia está ligada a que toda a demanda, mesmo<br />

a mais arcaica, tem sempre algo de enganoso em relação<br />

àquilo que preserva o lugar do desejo. Também é isso que explica<br />

a faceta angustiante daquilo que dá a essa falsa demanda uma<br />

resposta saturadora. [...] É de sua saturação total que surge a<br />

perturbação em que se manifesta a angústia ([1962-63] 2005, p.<br />

76).<br />

Saber a respeito do próprio desejo, desvelá-lo, sabemos que é uma tarefa<br />

impossível. Mas ser sincero com seu próprio desejo... É possível? Talvez grande<br />

parte dos relacionamentos amorosos sucumba por causa disso: a própria infidelidade<br />

quanto ao desejo. O amor idealiza o amado, pelo menos nos seus<br />

primórdios. Tal qual o eu ideal, que um dia fomos para o Outro materno, buscamos<br />

no amado os traços do que algum dia amamos (foi amado?) em nós mesmos,<br />

o ideal que construímos a duras penas, do qual o amado, subitamente,<br />

deixa de ser o portador.<br />

Lacan, em seu conhecido aforismo sobre o amor – “amar é dar o que não<br />

se tem”, nos lembra que o maior sinal do amor é justamente o dom do que a<br />

gente não tem, abrindo espaço para diversas interpretações, e que apontam no<br />

oposto do que comumente escutamos na clínica (e também fora dela), a saber,<br />

as intermináveis queixas em relação ao objeto amoroso, queixas essas que<br />

invariavelmente remetem ao que o outro não consegue dar, ou melhor dito, não<br />

consegue dar aquilo de que eu preciso. Nesse sentido Lacan aponta:<br />

Como é que o a, objeto da identificação, é também o a, objeto do<br />

amor? Ele o é na medida em que arranca metaforicamente o amante,<br />

para empregar o termo medieval e tradicional, do status em que ele<br />

se apresenta, o de amável, eromenos, para transformá-lo em erastes,<br />

sujeito da falta, mediante o que ele se constitui propriamente no<br />

amor. É isso que lhe dá, se assim posso dizer, o instrumento do<br />

amor, uma vez que se ama, que se é amante com aquilo que não<br />

se tem ([1962-63] 2005, p. 131-132).<br />

Nesses encontros (ou seriam desencontros?) amorosos, tão reiteradamente<br />

buscados e tão difíceis de abandonar, parece que o que se repete à<br />

exaustão é um pedido de que o Outro, enfim, restitua ao sujeito algo do que foi<br />

para ele sempre perdido, causa de seu desejo, e que fundamentalmente ele<br />

possa se encontrar como sendo causa do desejo no Outro. Na paciente em<br />

questão, podemos observar, no resgate de sua história, uma relação com o

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