Revista n.° 34 - APPOA

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TEXTOS Rev. Assoc. Psicanal. Porto Alegre, Porto Alegre, n. 34, p. 113-122, jan./jun. 2008 Resumo: O presente trabalho aborda aspectos da atividade do psicanalista na clínica institucional pública, ressalta a relação interdisciplinar na construção de dispositivos clínicos. Parte da construção singular de dois casos clínicos, situ- ando dois dos dispositivos colocados em movimento a partir desses casos, particularmente a apresentação de pacientes e o ateliê de escrita. Palavras-chave: clínica, instituição terapêutica, psicose, apresentação de pacientes, ateliê de escrita. THE LIMITS OF THE ANALYSABLE: THE CLINIC IN THE THERAPEUTIC INSTITUTION Abstract: This article discusses aspects of the work of the psychoanalyst in the public institutional clinic, emphasizes interdisciplinary work in the construction of medical devices. It starts at the construction of two singular cases, placing two of the devices putted in motion from these cases, particularly the presentation of patients and the atelier of writing. Keywords: clinic, therapeutic institution, psychosis, presentation of patients, atelier of writing. OS LIMITES DO ANALISÁVEL : A CLÍNICA NA INSTITUIÇÃO TERAPÊUTICA 1 Ester Trevisan 2 1 Trabalho apresentado na Jornada de Abertura da APPOA – Angústia, realizada em Porto Alegre, maio de 2008. 2 Psicanalista; Membro da APPOA: Membro da Equipe do Caps Cais Mental Centro (PMPA). E-mail: etrevisan@via-rs.net 113
114 Ester Trevisan Oque vou apresentar aqui está permeado pelo trabalho que desenvolvo no âmbito de um Centro de Atenção Psicossocial, o Caps Cais Mental Centro3 . Os Caps são instituições inscritas no campo da saúde mental, que surgiram em período relativamente recente, a partir da Reforma Psiquiátrica, para responder às demandas de atendimento a portadores de transtornos mentais graves; eles fazem parte do que se costuma chamar de rede reabilitação psicossocial4 . O contato diário com as psicopatologias graves, em situações de crise e de risco, pode, em alguns momentos, ser extremamente angustiante para aqueles que trabalham com essa clínica. Somos testemunhas em permanência do real, do excesso ou do vazio em excesso. O tratamento de alguns casos que se apresentam na clínica, às vezes, somente é possível dentro de uma prática institucional; exigem trabalho de acompanhamento, de assistência. Lembremos que o termo assistência vem do latim ad-sistere: encontrar-se próximo de, estar ao lado de, e essa proximidade inevitavelmente nos afeta, de diferentes formas. Por isso, torna-se importante criarmos dispositivos assistenciais ordenados por uma certa porosidade, que possibilitem alguma permeabilidade; lugares de fronteira, de litoral, de inscrição para o que encontramos a partir do espaço institucional. Vou apresentar neste trabalho minhas observações, trazendo dois recortes de casos e a forma singular como operamos a partir de alguns dispositivos institucionais: a apresentação de pacientes e o ateliê de escrita. Não me deterei no funcionamento da Instituição, somente gostaria de assinalar que é no contexto mesmo onde se dá o trabalho que se produzem estas reflexões e interrogações que apresento aqui. Há que considerar as particularidades do contexto em que ocorrem nossas intervenções: Que questões encontramos na clínica, quando o tratamento dos transtornos mentais graves se processa no âmbito da clínica institucional pública? No que se refere às apresentações de pacientes, elas vem sendo realizadas em nosso Serviço por Alfredo Jerusalinsky5 desde 2003, em trabalho conjunto com o Núcleo das Psicoses da APPOA6 . O dispositivo propõe um encontro da clínica pública com a instituição psicanalítica, o que, a meu ver, nos 3 Serviço ligado à rede de saúde mental da cidade de Porto Alegre, RS. 4 Não desenvolverei aqui toda uma crítica que pode ser feita ao modo como o DSM passa a tratar as psicopatologias atualmente. Costumo dizer que, hoje, pelo DSM, somos todos “transtornados”. Do mesmo modo, no que se refere à “reabilitação psicossocial” há também uma leitura que desponta na direção da inscrição social, para além da reabilitação psicossocial. 5 Psicanalista; Doutor em Educação e Desenvolvimento Humano pela USP; Membro da APPOA. 6 O Núcleo de Estudos sobre as Psicoses da Associação Psicanalítica de Porto Alegre.
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