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Mário Corso e Diana Lichtenstein Corso<br />
assusta. Uma coisa é desejar algo, almejar um filho, ver o resultado positivo do<br />
teste de gravidez, mas já nas ecografias, quando é possível ver o bebê, algum<br />
estranhamento pode se instalar.<br />
Para a maior parte dos homens, a gestação da mulher é algo teórico,<br />
com a qual eles se engatam mais por afeto a ela, que está tão frágil. Mas o filho<br />
parece uma idéia remota, ainda inacreditável, até a primeira ecografia. É nesse<br />
momento do ver para crer, que eles se tornam futuros papais, é quando um<br />
homem fica grávido. Essa possibilidade tecnológica de espiar o bebê e monitorarlhe<br />
a saúde trouxe indiscutíveis ganhos psicológicos para a paternidade.<br />
Outrora, o homem tornava-se pai quando recebia o bebê em seus braços<br />
e a partir dali se decidiria se haveria engate entre eles ou não. Em geral, isso<br />
dependia do sexo da criança e de sua posição na prole: por exemplo, se homem<br />
e primogênito, teria grandes chances de viver um paraíso, ou um inferno. Hoje os<br />
filhos tendem a ser em menor número. Como não os há suficientes para escolher<br />
alguns entre a ninhada, para beneficiar com sua atenção, o homem terá que<br />
tentar ser pai de todos os que tiver, mesmo porque a sociedade lhe cobra que<br />
desempenhe bem seu papel. Para tanto, ver o feto na tela, saber-lhe o sexo,<br />
nomeá-lo mesmo antes de tocá-lo, permite ao homem uma gestação psíquica,<br />
um tempo de preparo para a relação que se anuncia.<br />
Quanto à mãe, mesmo depois do nascimento, ela acredita que se não tiver<br />
o bebê presente em pensamentos, ele desaparecerá. Mesmo que intuitivamente,<br />
toda mãe sabe que no começo seu filho existe porque ela garante isso; outro tipo<br />
de cordão umbilical ainda flui entre os seus olhos e o pinho cor do bebê.<br />
Na verdade, apavora suportar tanta dependência e, por vezes, a mulher<br />
precisa lembrar-se de que ela própria existia antes da maternidade, de que ela é<br />
um organismo diferenciado dele, e de que sua vida é bem mais complexa do que<br />
esse ciclo de mamadas, fezes e sono intermitente a que está submetida. Nesses<br />
momentos desconecta-se, cai em devaneios, olha para o bebê com uma frieza<br />
que a assusta, mas na maioria dos casos passa. Geralmente isso é acompanhado<br />
de lágrimas, decorrentes da maciça experiência emocional que ela está vivendo,<br />
de sentir-se tão bebê ela mesma; tão filha ainda, para ser mãe; tão abandonada<br />
por todos e incapaz de garantir a imensa demanda daquela vida frágil. Essa<br />
tristeza é normal, também passageira, mas para muitas mulheres é insuportável.<br />
Decretam-se, por isso, incapazes para a maternidade, culpam o filho, ou o marido,<br />
ou ainda a si mesmas, por não estarem sentindo a felicidade que deveriam.<br />
Porém, neste filme não estamos lidando apenas com sentimentos maternos,<br />
encontramo-nos no território da ficção e aqui outras forças sobrenaturais<br />
orquestram a tragédia que, por ora, simplesmente se anuncia. Outros episódios<br />
sinistros cercam Damien: numa visita ao zoológico, os animais reagem furiosos