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Revista n.° 34 - APPOA

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92<br />

Mário Corso e Diana Lichtenstein Corso<br />

assusta. Uma coisa é desejar algo, almejar um filho, ver o resultado positivo do<br />

teste de gravidez, mas já nas ecografias, quando é possível ver o bebê, algum<br />

estranhamento pode se instalar.<br />

Para a maior parte dos homens, a gestação da mulher é algo teórico,<br />

com a qual eles se engatam mais por afeto a ela, que está tão frágil. Mas o filho<br />

parece uma idéia remota, ainda inacreditável, até a primeira ecografia. É nesse<br />

momento do ver para crer, que eles se tornam futuros papais, é quando um<br />

homem fica grávido. Essa possibilidade tecnológica de espiar o bebê e monitorarlhe<br />

a saúde trouxe indiscutíveis ganhos psicológicos para a paternidade.<br />

Outrora, o homem tornava-se pai quando recebia o bebê em seus braços<br />

e a partir dali se decidiria se haveria engate entre eles ou não. Em geral, isso<br />

dependia do sexo da criança e de sua posição na prole: por exemplo, se homem<br />

e primogênito, teria grandes chances de viver um paraíso, ou um inferno. Hoje os<br />

filhos tendem a ser em menor número. Como não os há suficientes para escolher<br />

alguns entre a ninhada, para beneficiar com sua atenção, o homem terá que<br />

tentar ser pai de todos os que tiver, mesmo porque a sociedade lhe cobra que<br />

desempenhe bem seu papel. Para tanto, ver o feto na tela, saber-lhe o sexo,<br />

nomeá-lo mesmo antes de tocá-lo, permite ao homem uma gestação psíquica,<br />

um tempo de preparo para a relação que se anuncia.<br />

Quanto à mãe, mesmo depois do nascimento, ela acredita que se não tiver<br />

o bebê presente em pensamentos, ele desaparecerá. Mesmo que intuitivamente,<br />

toda mãe sabe que no começo seu filho existe porque ela garante isso; outro tipo<br />

de cordão umbilical ainda flui entre os seus olhos e o pinho cor do bebê.<br />

Na verdade, apavora suportar tanta dependência e, por vezes, a mulher<br />

precisa lembrar-se de que ela própria existia antes da maternidade, de que ela é<br />

um organismo diferenciado dele, e de que sua vida é bem mais complexa do que<br />

esse ciclo de mamadas, fezes e sono intermitente a que está submetida. Nesses<br />

momentos desconecta-se, cai em devaneios, olha para o bebê com uma frieza<br />

que a assusta, mas na maioria dos casos passa. Geralmente isso é acompanhado<br />

de lágrimas, decorrentes da maciça experiência emocional que ela está vivendo,<br />

de sentir-se tão bebê ela mesma; tão filha ainda, para ser mãe; tão abandonada<br />

por todos e incapaz de garantir a imensa demanda daquela vida frágil. Essa<br />

tristeza é normal, também passageira, mas para muitas mulheres é insuportável.<br />

Decretam-se, por isso, incapazes para a maternidade, culpam o filho, ou o marido,<br />

ou ainda a si mesmas, por não estarem sentindo a felicidade que deveriam.<br />

Porém, neste filme não estamos lidando apenas com sentimentos maternos,<br />

encontramo-nos no território da ficção e aqui outras forças sobrenaturais<br />

orquestram a tragédia que, por ora, simplesmente se anuncia. Outros episódios<br />

sinistros cercam Damien: numa visita ao zoológico, os animais reagem furiosos

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