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Jaime Betts<br />
O início da era moderna é situado freqüentemente com a descoberta da América<br />
em 1492, por Cristóvão Colombo, e com o Renascimento. Nessa época,<br />
a pintura e a escultura tinham ainda a finalidade de fornecer belos objetos de<br />
que as pessoas da aristocracia ociosa pudessem desfrutar. O debate girava,<br />
então, em torno do significado do belo, no sentido de se tratar da habilidosa<br />
imitação da natureza ou se a verdadeira beleza estava na “capacidade do artista<br />
para ‘idealizar’ a natureza” (Gombrich, 1999, p. 475).<br />
A era da razão toma corpo com o advento da Revolução Francesa, em<br />
1789. Nesse período, começam os primeiros sinais da construção da consciência<br />
individual, de que era possível romper com a tradição em nome de um estilo<br />
pessoal.<br />
Nas artes, a pintura passa de ser ofício transmitido de mestre a aprendiz<br />
e se converte numa disciplina a ser ensinada em academias, e as obras vão<br />
deixando de ser dirigidas por encomenda dos mecenas e passam a disputar<br />
espaço nas exposições anuais de arte, que se transformavam em tema de conversa<br />
nas rodas sociais da elite da época nas quais essa se dedicava à disputa<br />
de fazer ou desfazer reputações (e valorizar, com isso, seus investimentos em<br />
obras de arte deste ou daquele artista).<br />
Isso levou muitos artistas a procurarem novos assuntos, freqüentemente<br />
espetaculares e inusitados face à tradição, que, por sua vez, lutava para sobreviver<br />
nos novos tempos. Ou seja, o mais notável efeito da ruptura com a tradição<br />
foi o fato de os artistas se sentirem “livres para passar ao papel suas visões<br />
pessoais, algo que até então só os poetas costumavam fazer” (Gombrich, 1999,<br />
p. 488).<br />
Segundo Gombrich, o mais notável exemplo dessa nova abordagem da<br />
arte foi o poeta e artista inglês William Blake (1757-1827), que vivia num mundo<br />
de sua própria criação, recusando-se a aceitar os padrões oficiais das academias,<br />
sendo considerado completamente louco. “Blake foi o primeiro artista, depois<br />
da Renascença que se rebelou conscientemente contra os padrões aceitos<br />
da tradição” (Gombrich, 1999, p. 490).<br />
Curiosamente, Gombrich não menciona Henri Fuseli (1741-1825) em seu<br />
livro sobre a história da arte. Fuseli era contemporâneo de Blake e mantiveram<br />
um longo, complexo e duradouro relacionamento, sendo que Fuseli tornou-se<br />
um dos pilares do establishment britânico das artes.<br />
No final do século XVIII, a Inglaterra vivia um cenário social e político<br />
conturbado, com as Gordon Riots em junho de 1780, banhadas em sangue, em<br />
resposta às reformas que permitiam a católicos alguma dignidade e liberdade<br />
equivalente à concedida aos que seguiam a Igreja Anglicana. Essas revoltas<br />
deixaram patentes que, sob a fachada da era da razão, em seu regime anglicano