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Revista n.° 34 - APPOA

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124<br />

Jaime Betts<br />

O início da era moderna é situado freqüentemente com a descoberta da América<br />

em 1492, por Cristóvão Colombo, e com o Renascimento. Nessa época,<br />

a pintura e a escultura tinham ainda a finalidade de fornecer belos objetos de<br />

que as pessoas da aristocracia ociosa pudessem desfrutar. O debate girava,<br />

então, em torno do significado do belo, no sentido de se tratar da habilidosa<br />

imitação da natureza ou se a verdadeira beleza estava na “capacidade do artista<br />

para ‘idealizar’ a natureza” (Gombrich, 1999, p. 475).<br />

A era da razão toma corpo com o advento da Revolução Francesa, em<br />

1789. Nesse período, começam os primeiros sinais da construção da consciência<br />

individual, de que era possível romper com a tradição em nome de um estilo<br />

pessoal.<br />

Nas artes, a pintura passa de ser ofício transmitido de mestre a aprendiz<br />

e se converte numa disciplina a ser ensinada em academias, e as obras vão<br />

deixando de ser dirigidas por encomenda dos mecenas e passam a disputar<br />

espaço nas exposições anuais de arte, que se transformavam em tema de conversa<br />

nas rodas sociais da elite da época nas quais essa se dedicava à disputa<br />

de fazer ou desfazer reputações (e valorizar, com isso, seus investimentos em<br />

obras de arte deste ou daquele artista).<br />

Isso levou muitos artistas a procurarem novos assuntos, freqüentemente<br />

espetaculares e inusitados face à tradição, que, por sua vez, lutava para sobreviver<br />

nos novos tempos. Ou seja, o mais notável efeito da ruptura com a tradição<br />

foi o fato de os artistas se sentirem “livres para passar ao papel suas visões<br />

pessoais, algo que até então só os poetas costumavam fazer” (Gombrich, 1999,<br />

p. 488).<br />

Segundo Gombrich, o mais notável exemplo dessa nova abordagem da<br />

arte foi o poeta e artista inglês William Blake (1757-1827), que vivia num mundo<br />

de sua própria criação, recusando-se a aceitar os padrões oficiais das academias,<br />

sendo considerado completamente louco. “Blake foi o primeiro artista, depois<br />

da Renascença que se rebelou conscientemente contra os padrões aceitos<br />

da tradição” (Gombrich, 1999, p. 490).<br />

Curiosamente, Gombrich não menciona Henri Fuseli (1741-1825) em seu<br />

livro sobre a história da arte. Fuseli era contemporâneo de Blake e mantiveram<br />

um longo, complexo e duradouro relacionamento, sendo que Fuseli tornou-se<br />

um dos pilares do establishment britânico das artes.<br />

No final do século XVIII, a Inglaterra vivia um cenário social e político<br />

conturbado, com as Gordon Riots em junho de 1780, banhadas em sangue, em<br />

resposta às reformas que permitiam a católicos alguma dignidade e liberdade<br />

equivalente à concedida aos que seguiam a Igreja Anglicana. Essas revoltas<br />

deixaram patentes que, sob a fachada da era da razão, em seu regime anglicano

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