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Revista n.° 34 - APPOA

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Um monstro no ninho<br />

monstro que se já abrigava em seu interior antes de morrer. A indústria<br />

armamentista, como se vê, estava disposta a tudo para obter um exemplar de<br />

Alien. O tema da clonagem se insere nessa série da mesma forma como adentrou<br />

no cotidiano de todos nós.<br />

O filme chegou no mesmo ano da divulgação da clonagem da ovelha<br />

Dolly a partir da glândula mamária de uma ovelha adulta, feito científico que<br />

suscitou muita polêmica. A clonagem foi tão excitante para a imaginação popular<br />

justamente pelo potencial de fantasias que catalisou: provou ser possível a<br />

reprodução não-sexuada, com a qual poderíamos deixar de ser fruto de um<br />

evento erótico, da combinação voluntária ou involuntária de duas pessoas. Até<br />

então era tácito que costumávamos ser resultantes de algum tipo de encontro<br />

sexual, independente de que ele tenha sido marcado pelo amor, pelo ódio, pela<br />

paixão lícita ou ilícita ou pela hipocrisia social.<br />

A difusão crescente das experiências de fecundação assistida, como<br />

solução para os problemas de fertilidade, deixa de fora o caráter francamente<br />

sexual e erótico da concepção, embora, via de regra, continuemos à mercê da<br />

vontade de um casal. Já a clonagem retira da reprodução a necessidade da<br />

combinação de duas pessoas para resultar em uma; não há dúvidas sobre com<br />

quem nos pareceríamos.<br />

Um filho clonado não significa síntese, mas, sim, repetição, pois resulta<br />

idêntico ao seu progenitor. As fantasias associadas a essa proeza científica<br />

revelam variações dos dramas e das tramas que tecemos quanto ao nosso<br />

ponto de origem, quanto à identificação com aqueles que invocaram nossa presença<br />

no mundo.<br />

O tema da clonagem propicia outra fantasia, esta de caráter narcísico: a<br />

de alguém que quisesse não um filho, mas um outro “eu”. Digamos que isso não<br />

seja estranho a nenhum de nós, pois desde sempre pais e filhos se fascinam e<br />

estranham pelas diferenças entre eles. Os pais esperam que os filhos os repitam<br />

ou que os superem, para enobrecer sua linhagem, ou até que fracassem,<br />

para que dependam deles e confirmem sua superioridade e a necessidade de<br />

sua presença. É tão atraente ver-se no filho como num espelho, e realizar-se<br />

através dessa duplicação de si mesmo, que isso pode colocar em risco o sucesso,<br />

tanto de adoções, como fecundações com o uso de doadores. Na fantasia, o<br />

filho clonado deveria ser idêntico ao progenitor em todos os sentidos, nasceria<br />

para satisfazer essa necessidade da repetição. Ele não estaria livre para construir<br />

uma identidade, que é o que todos fazemos a partir dos fatos biológicos que nos<br />

constituem, combinados com o ambiente em que nascemos.<br />

Clonada, Ripley torna-se instrumento de manipulação científica, fruto da<br />

cobiça da ciência. Mais uma vez, o tema da passividade reverbera, desta vez<br />

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