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Um monstro no ninho<br />
do de ser mãe com um bebê que parecia ser de verdade. Como se dois tempos<br />
contraditórios, a maternidade lúdica e a real, se fundissem. A gestação é uma<br />
dessas experiências, ela bem pode principiar para que se tome esse susto ao<br />
ver que a menina cresceu e a brincadeira acabou.<br />
Na experiência da maternidade estão em jogo todas essas identidades: a<br />
do bebê e da menina que se foi; a da identificação com a mãe que se teve; a da<br />
irmã que odiou, amou ou invejou seus rivais; a da cobiça pelas “bonecas-bebêsde-verdade”<br />
que só as mulheres grandes ganhavam. Assim, podemos listar inúmeros<br />
segredos que o encontro da mulher com a materialização de sua fertilidade<br />
pode gerar, e serão sempre uma surpresa. Aqui, o terror não provém de fora,<br />
ele é suscitado pela revelação de uma verdade interior.<br />
Para a continuação ou a interrupção de uma gestação haverá sempre um<br />
discurso racional, nossa versão oficial dos fatos, mas sob ele escondem-se<br />
outras razões, inconscientes, que seguramente conduzem nossos passos.<br />
Somente a compreensão dessas explica o sofrimento e a cilada da mãe de<br />
Kevin, seu envolvimento doentio com um filho que tanto quis, quanto não o<br />
suportou. Eva vai arrolando aos poucos as pistas: sua identidade de eterna<br />
viajante, que freqüentava seu casamento, sua cidade, mas sem prender-se neles,<br />
em contraste com a vida da sua própria mãe, que era totalmente reclusa e<br />
vivia acuada pelos medos e pelo peso da memória do massacre dos armênios.<br />
Kevin levou-a para dentro desse beco do qual ela sempre fugiu. Ele foi<br />
preso num centro para menores infratores, e ela ficou presa a ele, com uma<br />
única razão de viver, que era visitá-lo. Impedida de circular na rua, pela notoriedade<br />
do filho assassino, crime do qual foi igualmente acusada, ela por fim acabou<br />
vivendo solitária e encerrada em casa, como sua mãe. Coincidências? Não,<br />
é uma experiência ficcional das mais sinistras justamente porque poderia ter<br />
acontecido.<br />
Um espectro ronda o primeiro lar...<br />
Na entrada do século XX, Freud já havia levado a peste para dentro das<br />
certezas humanas, das famílias e até da infância. A consciência, antiga fonte de<br />
racionalidade e certezas, já não era considerada confiável, pois ela ignorava<br />
pensamentos a que não podia ter acesso. Agora, adoecia-se de desejos e reminiscências,<br />
e ela nada sabia disso. A família, outrora asséptico refúgio moral,<br />
estava agora contaminada pelas fantasias incestuosas e agressivas, num destino<br />
anunciado pelos oráculos consultados por Édipo. As crianças, longe dos<br />
anjos que se supunha serem, tábulas rasas à mercê da educação, revelavam-se<br />
capazes de fantasias eróticas envolvendo todos os orifícios do corpo, a serviço<br />
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