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Revista n.° 34 - APPOA

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86<br />

Mário Corso e Diana Lichtenstein Corso<br />

No final desse filme, através da exacerbação da oposição entre a mulher<br />

e a corporação capitalista selvagem, a luta contra a figura da poedeira cede<br />

espaço à guerra dos sexos. Mas não é um simples combate que se trava entre<br />

o poder de ambos, com as mulheres disputando o tradicional espaço viril: nessa<br />

batalha, elas entraram com armas próprias, que incluem a denúncia de que o<br />

homem não possui bom senso suficiente para gerir nossas vidas. Conforme<br />

elas, eles são movidos por razões menos altruístas, cegam-se facilmente com<br />

promessas de poder e glória, e avaliam mal os riscos, pois pecam pela onipotência.<br />

Esse é o discurso que Ripley demonstra em ato.<br />

O problema é que, como conseqüência dessa operação, a mulher fica<br />

ainda mais só, desvinculada da própria mãe, que não foi guerreira como ela, e<br />

órfã também do lado paterno, pois ela precisa cuidar do mundo dos homens, já<br />

que eles agem como se fossem crianças irresponsáveis.<br />

Conforme outra teórica da feminilidade, a psicanalista Marie Langer, autora<br />

do clássico Maternidade e sexo: “Nós mulheres depositamos muito mais<br />

neles do que eles em nós. Os cuidamos e, visto que somos mães e já criamos<br />

filhos varões, em primeiro lugar nos damos ao trabalho de armá-los como figuras<br />

onipotentes, para depois protegê-los e evitar que se despenquem. E isso é<br />

assim até que nos cansamos e nos divorciamos. Então, os transformamos em<br />

pedacinhos” 13 . Onde Langer vê o ressentimento das mulheres pelos homens<br />

cuja carreira ajudaram a construir, tarefa à qual não estão mais dispostas a<br />

entregar-se, Betty Friedan (2001) vê o início da libertação masculina dos cuidados<br />

maternos infantilizantes: “Eles crescerão, esses homens, para fora do homem<br />

criança que definiu a masculinidade até então” (p. XXXIV).<br />

Ripley x Senhores das Armas<br />

Alien: a ressurreição, dirigido por Jean-Pierre Jeunet (1997) é o quarto<br />

filme da saga. Embora o tema pareça caminhar para a exaustão, ele se revela<br />

tão prolífero quanto nossa capacidade de emprestar fantasias aos fatos da realidade<br />

e do funcionamento do corpo. O roteiro deste já inclui o fenômeno da<br />

clonagem, pois a trama inicia com o renascimento de Ellen Ripley, cujo corpo<br />

foi reproduzido pelos cientistas para, através dele, terem acesso às células do<br />

13 Langer, Marie. Fragmento de uma conferência proferida em Madri em 1984 (tradução nossa).

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