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Os limites do analisável...<br />
mos com o transbordamento de uma angústia intensa, com corpos em agitação,<br />
quando estamos em presença de pacientes capazes de, naquele momento,<br />
realizarem uma passagem ao ato violenta; ou, ainda, diante de outros presos<br />
no mutismo, ou seja, momentos em que nosso corpo necessita fazer um esforço<br />
enorme para deixar sair a voz, para sustentar o uso da palavra, uma “palavra<br />
justa” 7 para aquele momento, de modo que nossa intervenção se mantenha<br />
pela via do simbólico.<br />
O fato de estarmos em um lugar onde o atendimento a pacientes em<br />
momento de crise é a regra leva-nos a interrogar por que esse lugar? Por que<br />
essa clínica? Até onde ela é possível? Quais os limites de um trabalho possível?<br />
De que modo, do nosso lado, se dá a transferência? O que fazemos para sustentar<br />
esse lugar de escuta sem cairmos “numa paciente sonolência” 8 ? Face ao<br />
que se apresenta para nós como insuportável, podemos ser levados a buscar<br />
abrigo à sombra de técnicas que, “apropriadas”, denunciariam que o problema<br />
não é o nosso trabalho, é o paciente que é um “mau” paciente,intratável, crônico.<br />
Penso que o ponto no qual abandonamos os esforços de acompanhar um<br />
paciente será o ponto em que se tocam o real que é o dele e o nosso, é em um<br />
ponto de junção que se produzirá esse efeito. Se o efeito é de impedimento,<br />
inibitório, o certo é que ele abriga a angústia – do analista, no caso.<br />
Gostaria de retomar o que disse Robson Pereira, em sua conferência na<br />
Jornada de Abertura da <strong>APPOA</strong> – O trabalho do psicanalista, de abril de 2003:<br />
“O desejo do psicanalista implica em insistir com um desejo que dá trabalho”.<br />
Sua fala, ele a intitulou: “Será que ainda és psicanálise”? interrogação que acompanha<br />
aqueles que a exercem no campo da saúde mental, é uma questão que<br />
insiste. Robson encerra esse trabalho citando um termo retomado do grego por<br />
Roland Barthes – Acolouthia.<br />
Diz Barthes:<br />
Acolouthia: o ultrapassamento da contradição eu interpreto como<br />
o desmontar da armadilha. Ora, Acolouthia tem um outro sentido:<br />
o cortejo de amigos que me acompanham, me guiam, aos quais<br />
eu me abandono. Eu gostaria de designar por esta palavra este<br />
campo raro onde as idéias se penetram de afetividade, onde os<br />
amigos, pelo cortejo através do qual eles acompanham a nossa<br />
vida, permitem pensar, escrever, falar (apud Bensmaïa, 1986, p. 95).<br />
7 Retomando uma expressão de Françoise Dolto.<br />
8 A partir de Marcel Czermak, na introdução ao livro Paixões do objeto: estudo psicanalítico das<br />
psicoses. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.<br />
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