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Revista n.° 34 - APPOA

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Criação contemporânea e angústia<br />

residiam paixões e preconceitos tão explosivos quanto aqueles atribuídos aos<br />

católicos.<br />

Os seis dias de revoltas de Gordon revelaram rachaduras no edifício do<br />

recentemente criado Estado britânico, moderno e comercial. O questionamento<br />

de fundo era se seus fundamentos de razoabilidade, racionalidade e empirismo<br />

podiam ser sustentados.<br />

Foi no seio dessas rachaduras do edifício cultural georgiano que se definiu<br />

e se deu poder ao gótico, sob suas formas plásticas, literárias e visuais, pois<br />

em ambas as formas de expressão artística se expunham as maiores suspeitas<br />

de horrores ocultos sob a era iluminada pela razão.<br />

Foi nesse contexto histórico, político e cultural que Henri Fuseli produziu<br />

seu quadro mais famoso em 1781: O pesadelo (Fig. 1). Essa obra interroga a<br />

era da razão num contexto de violência e horror, dando lugar ao nascimento do<br />

gótico, com seu gosto pelo fantástico e sua crença no sobrenatural, que dominou<br />

a cultura britânica de 1770 a 1830.<br />

Desde sua exibição na Royal Academy, em 1782, esse quadro criou uma<br />

sensação e se tornou desde então a imagem-ícone do horror, uma imagem<br />

duradoura do terror sexual. Segundo a curadoria da exposição Gothic nightmares,<br />

na Tate Britain (2007), Fuseli queria que seu quadro chocasse, intrigasse, e que<br />

também criasse para si uma reputação como artista, coisa que conseguiu triunfalmente.<br />

O pesadelo tem sido copiado e panfletado inúmeras vezes ao longo do<br />

século XIX e continua a exercer sua influência até os dias de hoje, inspirando<br />

artistas, pensadores, escritores, diretores e roteiristas de filmes de estilo gótico,<br />

bem como o cartaz da Jornada da <strong>APPOA</strong> : Angústia na Clínica Psicanalítica-2007.<br />

A organização temática da exposição Gothic nightmares, na Tate Britain<br />

(primeira exposição a abordar seriamente o tema nas artes visuais), tendo como<br />

eixo a obra de Henri Fuseli e William Blake, entre outros nomes, abrange a arte<br />

do horror, o classicismo perverso, em que os artistas evocam a tradição antiga<br />

e renascentista, mas com novo interesse no sexo e na violência, buscando<br />

chocar e confrontar o espectador com o horror corporal. Os super-heróis góticos<br />

são caracterizados por uma visão sublime como aprisionados e torturados. Os<br />

contos e lendas góticos enfocam temas da magia, terror e romance. Embora no<br />

final do século XVIII já não se acreditasse tanto em bruxas e em fantasmas, o<br />

gosto pelo sobrenatural tornou-se um gênero prevalente na cultura. Fadas e<br />

mulheres fatais foram tema cultivado, assim como a Revolução Francesa foi<br />

combinada de forma ambivalente com revelações e um cenário apocalíptico,<br />

sem que se pudesse saber se o caminho apontava em direção à utopia ou a<br />

uma monstruosidade caricatural.<br />

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