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Angústia e desamparo...<br />
Em O ego e o id, Freud ([1923] 1976) analisa as repercussões, no eu, de<br />
uma perda amorosa, comparando ao que ocorre na melancolia e situando que,<br />
quando acontece de uma pessoa ter de abandonar um objeto sexual, freqüentemente<br />
se segue uma alteração de seu eu, que pode ser entendida como a<br />
instalação do objeto dentro do eu, tal como ocorre na melancolia. Qual a importância<br />
dessa aproximação com a melancolia? Qual a força dessa perda? Parece<br />
correto supor, seguindo a leitura do texto de Freud, que isso tem a ver com a<br />
magnitude das primeiras desilusões amorosas, revelando que “os efeitos das<br />
primeiras identificações efetuadas na mais primitiva infância serão gerais e duradouros”<br />
(p. 45).<br />
O amor e o desejo<br />
Sabemos que uma relação amorosa não repousa apenas no amor. Ela também<br />
diz respeito à experiência do desejo. Se o amor é o dom daquilo que somos,<br />
o desejo diz respeito à falta, àquilo que não temos e que não somos. O desejo,<br />
portanto, como ensina a psicanálise, não é da ordem da necessidade, do útil.<br />
Para Lacan, as satisfações de pedidos de amor são fundamentalmente<br />
frustrantes, dado que o símbolo, enquanto símbolo de uma ausência, sempre<br />
deixa uma falta de satisfação em seu lugar: a demanda é sempre demanda de<br />
outra coisa. Ele sublinha que<br />
o verdadeiro objeto buscado pelo neurótico é uma demanda que<br />
ele quer que lhe seja feita. Ele quer que lhe façam súplicas. A única<br />
coisa que não quer é pagar o preço (Lacan, [1962-63] 2005, p. 62).<br />
Escuto muitas vezes, no discurso dessa jovem, a dificuldade em pagar o<br />
preço que a castração impõe: o da escolha (e o da perda). Isso aparece em<br />
diferentes situações: seja na escolha profissional, sempre claudicante; seja na<br />
sustentação de seu objeto amoroso, pois nunca está satisfeita com o que tem<br />
(e procura outros); seja, enfim, na escolha de um atributo feminino, uma vestimenta<br />
por exemplo, a qual tem muita dificuldade em fazer. E, na tentativa de evitar<br />
pagar o preço, tem-se a impressão de que se poderia não ter que dar nada em<br />
troca, simplesmente ser para este outro; logo, a angústia apareceria, como<br />
propõe Lacan, como o sinal de que a falta pode faltar. Lacan esclarece que não<br />
se trata da perda do objeto, mas de que os objetos não faltem. Como exemplo,<br />
poderíamos pensar, quando o bebê se oferece como objeto de gozo da mãe e<br />
esta captura isso. A angústia é tentar dar conta do desejo do Outro, ou, como<br />
propõe Lacan, é a falta da falta.<br />
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