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Revista n.° 34 - APPOA

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Angústia e desamparo...<br />

Outro materno 5 problematizada pela via de um não-olhar libidinizante, ou, no<br />

outro extremo, um investimento que escancara algo de uma erogenização que<br />

beira o real, em que não há espaço para a simbolização desse sujeito. Essa<br />

jovem tem uma relação com o sexo ancorada numa demanda desmedida de<br />

gozo, suposto gozo que restituiria imaginariamente a sua falta.<br />

Também é curioso perceber que, muitas vezes, o parceiro ao qual essa paciente<br />

se refere não é investido de admiração ou atributo fálico, mas, paradoxalmente,<br />

sente desejo sexual e busca sentir-se desejada sexualmente por ele. Poder-se-ia<br />

supor que ela busca no encontro sexual algo da ordem de um apagamento da falta,<br />

onde estaria na posição de ser o objeto de desejo do outro, mas um objeto excessivamente<br />

encarnado, não deixando espaços vazios, não saberes, amalgamandose<br />

ao Outro. A dialética do ter fica obliterada pela urgência do ser (para o Outro).<br />

A angústia e a falta<br />

Se considerarmos que o objeto-causa do desejo se impõe como real e<br />

que o objeto do fantasma tem a mesma estrutura da angústia, poderíamos pensar<br />

que a manifestação da angústia, nesse caso, revela uma interrogação: “O<br />

que quer ele de mim?” Ponto negro, instransponível, pois obriga o sujeito a se<br />

questionar sobre a verdade de seu desejo, buscando a resposta para o enigma do<br />

desejo do Outro. Se o significante não encontra ancoragem no outro, o sujeito do<br />

desejo fica à deriva, assim como a sua organização simbólica. Na verdade, o<br />

desejo está para além da demanda de reconhecimento por outro desejo; está<br />

para além da linguagem. Por outro lado, é somente a lei do desejo que nos permite<br />

manter a relação, no encontro entre o limite do amor e do gozo (Julien, 2000).<br />

Em Freud, a angústia funda-se, em última instância, sobre uma condição<br />

fundamental de desamparo. O nascimento fornece a Freud o protótipo da condição<br />

que evidencia a radical implicação da sexualidade com o desamparo. Notase<br />

que a noção de desamparo assume diferentes formalizações na obra de<br />

Freud: da incapacidade fundamental do recém-nascido em satisfazer as suas<br />

necessidades vitais, até a concepção mais elaborada, como a dos fundamentos<br />

da teoria da angústia e a da constituição dos ideais e da estrutura do superego.<br />

Em suas últimas elaborações, Freud confere ao desamparo um estatuto de<br />

dimensão fundamental da vida psíquica, que indica os limites e as condições de<br />

possibilidade do próprio processo de simbolização.<br />

5 Não abordarei a questão da importância fundamental do olhar do pai na feminilização da mulher,<br />

aspecto que deixarei de lado para posteriores desdobramentos.<br />

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