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Angústia e desamparo...<br />
Outro materno 5 problematizada pela via de um não-olhar libidinizante, ou, no<br />
outro extremo, um investimento que escancara algo de uma erogenização que<br />
beira o real, em que não há espaço para a simbolização desse sujeito. Essa<br />
jovem tem uma relação com o sexo ancorada numa demanda desmedida de<br />
gozo, suposto gozo que restituiria imaginariamente a sua falta.<br />
Também é curioso perceber que, muitas vezes, o parceiro ao qual essa paciente<br />
se refere não é investido de admiração ou atributo fálico, mas, paradoxalmente,<br />
sente desejo sexual e busca sentir-se desejada sexualmente por ele. Poder-se-ia<br />
supor que ela busca no encontro sexual algo da ordem de um apagamento da falta,<br />
onde estaria na posição de ser o objeto de desejo do outro, mas um objeto excessivamente<br />
encarnado, não deixando espaços vazios, não saberes, amalgamandose<br />
ao Outro. A dialética do ter fica obliterada pela urgência do ser (para o Outro).<br />
A angústia e a falta<br />
Se considerarmos que o objeto-causa do desejo se impõe como real e<br />
que o objeto do fantasma tem a mesma estrutura da angústia, poderíamos pensar<br />
que a manifestação da angústia, nesse caso, revela uma interrogação: “O<br />
que quer ele de mim?” Ponto negro, instransponível, pois obriga o sujeito a se<br />
questionar sobre a verdade de seu desejo, buscando a resposta para o enigma do<br />
desejo do Outro. Se o significante não encontra ancoragem no outro, o sujeito do<br />
desejo fica à deriva, assim como a sua organização simbólica. Na verdade, o<br />
desejo está para além da demanda de reconhecimento por outro desejo; está<br />
para além da linguagem. Por outro lado, é somente a lei do desejo que nos permite<br />
manter a relação, no encontro entre o limite do amor e do gozo (Julien, 2000).<br />
Em Freud, a angústia funda-se, em última instância, sobre uma condição<br />
fundamental de desamparo. O nascimento fornece a Freud o protótipo da condição<br />
que evidencia a radical implicação da sexualidade com o desamparo. Notase<br />
que a noção de desamparo assume diferentes formalizações na obra de<br />
Freud: da incapacidade fundamental do recém-nascido em satisfazer as suas<br />
necessidades vitais, até a concepção mais elaborada, como a dos fundamentos<br />
da teoria da angústia e a da constituição dos ideais e da estrutura do superego.<br />
Em suas últimas elaborações, Freud confere ao desamparo um estatuto de<br />
dimensão fundamental da vida psíquica, que indica os limites e as condições de<br />
possibilidade do próprio processo de simbolização.<br />
5 Não abordarei a questão da importância fundamental do olhar do pai na feminilização da mulher,<br />
aspecto que deixarei de lado para posteriores desdobramentos.<br />
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