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Revista n.° 34 - APPOA

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Angústia e morte...<br />

do homem na cadeia significante funda o desejo. Entretanto, nessa operação de<br />

entrada do sujeito na linguagem e da inscrição desta no corpo – o que conseqüentemente<br />

vai separar sujeito e objeto – existe algo que fica fora dessa inscrição,<br />

é o que Lacan vai chamar, numa primeira aproximação, de libra de carne.<br />

Nesse contexto, nos lembra do Mercador de Veneza de Shakespere, e<br />

do momento em que o mercador, um judeu chamado Shylock, quer que o pagamento<br />

da dívida seja feita com uma libra de carne retirada bem perto do coração<br />

de seu devedor. Essa libra de carne é, então, alçada à condição de zona sagrada,<br />

e é com ela que, na hora da verdade, vamos fazer o acerto de contas. Na<br />

hora da verdade nos defrontamos com a maldade divina, e é com nossa carne<br />

que vamos saldar a dívida.<br />

Nesse ponto, Lacan nos fala do sentimento anti-semita e de quanto esse<br />

sintoma está mais do que articulado, mas vivo nessa zona sagrada, como um<br />

resto que faz função. Nas palavras do autor:<br />

[...] é alguma coisa que sobrevive à prova da divisão do campo do<br />

Outro pela presença do sujeito, alguma coisa que está formalmente<br />

metaforizada, em tal passagem bíblica, na imagem do toco, do<br />

tronco cortado, de onde o novo tronco ressurge nessa função viva<br />

no nome do segundo filho de Isaías, Chear-Yachoub (Lacan, [1962-<br />

1963] 1997, p. 258-59).<br />

Sintetizando, na constituição do sujeito, no ingresso do sujeito na linguagem<br />

vamos encontrar o desejo como causa, ligado à inscrição do significante e<br />

da perda do objeto a, objeto-causa do desejo. E, por outro lado, o sintoma<br />

implicado nesse processo vinculado em certa relação com a função de resto<br />

desse mesmo objeto. Como Lacan nos define mais adiante nesse seminário:<br />

a, nós o definimos como resto da constituição do sujeito no lugar<br />

do Outro, na medida em que ele tem que se constituir enquanto<br />

sujeito falante, sujeito barrado, $ (Lacan, [1962-1963] 1997, p. 326).<br />

Quando ingressamos em um corpo de linguagem estrangeiro percebemos<br />

a necessidade de incorporação dessa linguagem para poder habitar o território.<br />

Tem-se a vivência de um ser outro-Outro e nos defrontamos com o discurso<br />

do mestre de uma cultura, que ordena a maneira de gozo. A dimensão do<br />

gozo está presente nessa operação, como nos lembra Lacan (1968-1969) no<br />

seminário De um Outro ao Outro. É o correlato da constituição do sujeito e sua<br />

entrada na linguagem.<br />

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