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Sandra Djambolakdjian Torossian<br />
tros nem o mencionam. Diferentes lugares subjetivos são atribuídos às drogas<br />
por aqueles sujeitos aos quais convencionou-se chamar de “usuários de drogas”<br />
e aqueles que trazem a marca da “toxicomania” ou “dependência química”. Lugares<br />
esses, muitas vezes desconsiderados, quando se parte da descrição<br />
fenomenológica do consumo de drogas explicitada nas categorias de “usuários”<br />
e “dependentes”.<br />
Os “dependentes” angustiam o analista quando apresentam a fronteira de<br />
sua prática: como analisar pessoas que colocam a droga no lugar da fala? Ou<br />
fazem da fala um tóxico?<br />
Em contrapartida, há adolescentes que insistem em se apresentar como<br />
“drogados”, mas cuja relação com as drogas convive com outras atividades na<br />
vida. Esses nos fazem interrogar as conseqüências de nossas intervenções:<br />
enfatizar as drogas poderá definir um destino, por apontar aí um traço identificatório.<br />
Os sujeitos que escutamos falam-nos, geralmente, das peripécias e vicissitudes<br />
da sua relação com os outros num momento em que seus corpos<br />
estão se modificando em ritmo acelerado. Sentem-se exigidos a adotar uma<br />
postura diferenciada daquela das crianças. Seus amigos, outrora companheiros<br />
de brincadeiras, espelham as mudanças corporais e demandam um olhar que<br />
inclua as relações amorosas. Falas sobre namoros, brigas e cumplicidades são<br />
freqüentes.<br />
Um novo “brinquedo” surge em conformidade com a contemporaneidade:<br />
as drogas. Dado, um dos tantos adolescentes que escutamos, nos ensina isso<br />
de forma criativa: faz coincidir as “viagens” propiciadas pela droga que consome<br />
com suas “viagens” infantis no jogo de imaginar diferentes desenhos, ao olhar<br />
para as nuvens. Reverbera, nessa cena, a série brincar-drogas, já teorizada por<br />
Winnicott ([1971]1975) e retomada por Rassial (1999).<br />
Esse mesmo adolescente interroga-se pela sua forma de uso de drogas,<br />
questão que o leva a perguntar-se em como ser nomeado. Além disso, fala<br />
interrogativamente sobre qual a função do consumo que realiza. A maconha o<br />
fez ficar calmo na escola; as colas lhe produziram mal-estar físico, e por isso as<br />
abandonou; outras drogas fizeram-no perder objetos de valor, o que o levou a<br />
delas se despedir. Reconhece, no entanto, que a maconha – já utilizada como<br />
remédio – pode se tornar venenosa em determinadas condições de consumo:<br />
em situações nas quais ele perde o controle sobre o uso.<br />
Derrida ([1972]1997) aponta para essa linha paradoxal quando diz ser<br />
remédio e veneno simultaneamente a capacidade do fármakon. Seu poder reside<br />
no efeito de fascinação produzido, o qual apresenta o “benéfico e o maléfico”.<br />
As drogas remediam situações de angústia e, ao mesmo tempo, tornam-se<br />
venenosas, transformando-se em tóxico.