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Revista n.° 34 - APPOA

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Jaime Betts<br />

ele não gostaria que elas aparecessem antes no prato de seu pai! Elas parecem<br />

ser mesmo sua réplica.<br />

O que permite a separação do sujeito alienado na imagem especular do<br />

eu ideal e do fenômeno do duplo é o recorte simbólico significante do ideal do<br />

eu, recebido pelo olhar do Outro, que ao mesmo tempo que faz uma marca que<br />

identifica a imagem como sendo a do sujeito e, diferenciando-a daquelas dos<br />

seus semelhantes, produz um resto perdido do corpo. Trata-se do objeto a,<br />

resto perdido, que causa o desejo e não tem imagem possível.<br />

A obra O que restou da passagem do anjo (fig. 3), de Vera Chaves<br />

Barcellos, permite uma leitura interessante nesse sentido. De um lado, temos<br />

imagens coloridas de figuras aparentemente femininas, desfocadas, de<br />

passagem, com as roupas esvoaçantes ao vento. Na parede ao lado, temos<br />

uma moldura de madeira de forma oval, com uma nódoa de tecido de coloração<br />

rósea atrás do vidro. De cada lado desse espelho emoldurado, supondo<br />

que seja um, temos uma caixa de vidro com plumas e, do outro, um vidro<br />

contendo éter. Parece sugerir que não há mais nada etéreo que as imagens<br />

esvoaçantes de vestes femininas, que deixam como resto de sua passagem<br />

um espelho sem imagem e plumas desprendidas das asas do anjo em seu<br />

vôo.<br />

Se nos colocamos diante desse “espelho” do que restou da passagem do<br />

anjo, no lugar de nossa imagem refletida, vemos apenas uma mancha, uma<br />

nódoa de tecido. Nesse sentido, não há nada mais angustiante que se olhar no<br />

espelho e não ver a própria imagem refletida. Como nos filmes de terror sobre<br />

vampiros, que podem ser vistos pelos humanos, mas não imagem no espelho,<br />

pois são seres sobrenaturais. Hoje essas cenas são satirizadas em algumas<br />

comédias. Satiriza-se o que no fundo é fonte de angústia.<br />

Em outras palavras, o que restou da passagem do sujeito pelo lugar Outro<br />

da linguagem são restos perdidos do corpo com função de um objeto que<br />

não tem imagem especular, e tanto é causa do desejo, quanto fonte de angústia,<br />

no sentido de que é o afeto que não engana, pois denuncia que o sujeito<br />

está confrontado com a falta no Outro, que causa seu desejar.<br />

Nesse sentido, o grão da imagem é o olhar inscrito na obra, que nos olha<br />

de volta como objeto a, sem refletir a imagem do espectador.<br />

A segunda obra que destacaremos é Os manequins de Dusseldorf (fig.<br />

4). A artista conta que saiu um dia com a intenção de fotografar as vitrinas das<br />

lojas, com a idéia vaga de fazer algo sobre o tema da moda. Eis que ela se<br />

deparou com o acaso, pois era justamente o dia em que uma loja fazia a troca<br />

do cenário dos manequins que ostentariam as mais recentes peças no espetáculo<br />

da moda no mercado.

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