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Revista n.° 34 - APPOA

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Transferência e angústia...<br />

Não podemos nos esquecer, no entanto, de que as toxicomanias são<br />

apresentadas como uma das saídas para a angústia, pelo discurso contemporâneo,<br />

em sociedades que têm o consumo como uma de suas políticas principais.<br />

Isso nos conduz a apontar a homogeneização das toxicomanias, quando,<br />

por exemplo, as nomeamos no singular. Tomar as toxicomanias como se não<br />

houvesse diferenças entre as várias posições toxicomaníacas ou, ainda, tratar<br />

da mesma forma o dispositivo de consumo de drogas e as diversas posições<br />

toxicomaníacas é realçar o tóxico no lugar do sujeito. Imagens de intoxicação,<br />

no dizer de Le Poulichet (1990). Imagens pelas quais o analista pode ser facilmente<br />

capturado, na tentativa de trabalhar com a angústia, quando o sofrimento<br />

se organiza a partir de uma toxicomania grave. Uma modalidade de consumo<br />

que prioriza a dessubjetivação. O sujeito apagado e o tóxico iluminado angustiam<br />

o analista.<br />

É esse o eixo do nosso trabalho, apresentar algumas situações clínicas<br />

que nos permitam percorrer uma trama de transferência, narrando algumas situações<br />

nas quais a angústia toma conta da cena analítica.<br />

A angústia na transferência<br />

NO FIO DA NAVALHA<br />

O percurso analítico de Dado traz como uma de suas perguntas principais:<br />

“sou viciado?” A busca dessa resposta direciona-se aos pais e à analista.<br />

A mãe e a escola confirmam o “diagnóstico”; o pai o nega, porém, apontando os<br />

cuidados necessários para não se transformar num. A analista questiona a certeza<br />

materna, abrindo a possibilidade para que ele possa escutar quem o nomeia<br />

a partir de outra posição, que não a das drogas.<br />

O processo terapêutico de Dado foi marcado pela escuta das questões<br />

referentes às drogas, sem optar por reforçar a “ruindade” ou a “bondade” delas,<br />

para que ele pudesse realizar todas as perguntas necessárias sobre sua adolescência<br />

e deslizar o foco do seu discurso, das drogas para as outras “questões<br />

da vida” (segundo suas palavras): escola, sexualidade, etc.<br />

Nesse processo, a palavra de quem lhe devolve uma imagem que não<br />

inclui as drogas passa por momentos de descrédito, precisando ser sustentada<br />

pela analista. Momentos de angústia produzidos no processo analítico e na<br />

relação transferencial, momentos nos quais qualquer erro terapêutico poderia<br />

indicar-lhe os tóxicos como o percurso de referência para a vida.<br />

A angústia apareceu em diferentes cenários, ao longo do percurso de<br />

tratamento. Em alguns momentos, Dado incursionou pelo intenso uso de diferentes<br />

drogas, momentos nos quais as referências de “viciado” voltavam com<br />

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