Revista n.° 34 - APPOA

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TEXTOS Rev. Assoc. Psicanal. Porto Alegre, Porto Alegre, n. 34, p. 149-156, jan./jun. 2008 ANGÚSTIA E MORTE: PSICOPATOLOGIA DA VIDA COTIDIANA NO MÉXICO 1 Luciane Loss Jardim 2 Resumo: O trabalho articula o objeto a, em sua função de resto, à psicopatologia da vida cotidiana mexicana, através da abordagem da linguagem e de alguns elementos específicos de tal cultura, como é o caso do ritual do día de los muertos. Palavras-chave: angústia, psicopatologia, cultura mexicana, dia dos mortos. ANGUISH AND DEATH: PSYCHOPATHOLOGY OF THE EVERYDAY LIFE IN MEXICO Abstract: The article joins the concept of object a in its function of remainder and the psychopathology of everyday life in Mexico through the approach of the language and some specific elements of the Mexican culture, such as rituals on The day of the dead. Keywords: anguish, psychopathology, Mexican culture, day of the dead. 1 Trabalho apresentado nas Jornadas Clínicas da APPOA – Angústia, realizadas em Porto Alegre, outubro de 2007. 2 Psicanalista; Membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA); Doutora em Psicologia Clínica PUC/SP; Pesquisadora Colaboradora do Depto. de Psicologia Médica e Psiquiatria da UNICAMP; Pós-doutoranda no Laboratório de Psicopatologia Fundamental da UNICAMP. E-mail: lulossjardim@uol.com.br 149
150 Luciane Loss Jardim A primeira versão deste trabalho foi apresentada nas Terceiras Jornadas In ternacionais: Psicanálise e Outros Saberes, por ocasião da Convergência Movimento Lacaniano Para Uma Psicanálise Freudiana, realizada de 27 a 29 de outubro de 2006, na Cidade do México. Nessa ocasião, o trabalho versou sobre algumas notas que uma psicanalista vivendo no México poderia fazer sobre o encontro com aquela cultura e a incorporação dessa linguagem para habitar em terras estrangeiras. De volta aos pagos, se impôs outro desejo, o de compartilhar com os colegas da APPOA parte dessa experiência e a leitura que fiz dessa civilização através da psicanálise, contando particularmente com o seminário A angústia, de Lacan ([1962-1963] 1997). O argumento deste trabalho foi encontrado no seminário A angústia, no qual o autor fala sobre aquilo que tem função de resto, ou seja, o que sobrevive à prova da divisão do campo do Outro pela presença do sujeito. Essa função de resto é análoga à função irredutível da cepa. A cepa sempre retorna; por mais fundo que seja o corte, a raiz renasce, e isso é reencontrado em muitas manifestações culturais de distintos povos. Nessa perspectiva, alguns elementos da cultura mexicana, como o ritual do día de los muertos é interessante para entender essa função de resto. Lacan, nesse seminário, está interessado em demonstrar como o objeto a, o objeto dos objetos, se forma. Detalha, a partir da lição 17, o mecanismo de formação do objeto a e, conseqüentemente, aborda a função da causa no humano. Pergunta, para seguir articulando uma resposta: Qual é a função da causa? Causa? Mas que causa? Se falarmos em causa, cartesianamente, logo pensamos no seu efeito. Ou seja, na relação de causa e efeito. Existe sempre uma causa para um efeito? A psicanálise pensa nessa relação de causa e efeito? Será que é uma relação linear que buscamos conjuntamente com nossos pacientes, quando nos perguntam qual é a causa do meu problema, doutor? O que causa o meu sofrimento? A causa, segundo Lacan ([1962-1963] 1997), surge sempre em correlação com o fato de que alguma coisa é omitida a respeito do conhecimento, alguma coisa que é precisamente o desejo que anima a função do conhecimento. Portanto, tradicionalmente, quando se busca a causa, se invoca o ponto cego na função desse conhecimento mesmo. Isso tem a ver justamente com muitas perguntas que são dirigidas ao analista sobre o que causa o sofrimento no sujeito. Perguntas que, pelo trabalho do analista, desdobram-se em: O que me causa? O que causa meu desejo? Na dialética da causa, o sujeito falante está implicado em seu corpo pela palavra, o que se deve à inscrição exercida pelo significante. E esse engajamento
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