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Revista n.° 34 - APPOA

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80<br />

Mário Corso e Diana Lichtenstein Corso<br />

para a Terra. Opinar não é seu papel, resta-lhe parir e calar, ou então sumir. O<br />

problema é que o pesadelo sempre se repete. Assim como as mulheres se<br />

reencontram com as manifestações mensais de seu ciclo de fertilidade, a cada<br />

vez que desperta, Ripley encontra-se face a face com o Alien, e não adianta<br />

mesmo gritar, ninguém nunca a escuta.<br />

A poedeira se revela – Alien: o retorno<br />

Presa às malhas da natureza, ela é planta e animal,<br />

uma reserva de colóides, uma poedeira, um ovo 11 .<br />

O segundo filme, Alien: o retorno, realizado sete anos depois, em 1986,<br />

por James Cameron, deixa a fantasia mais clara. O que se perde em qualidade<br />

estética, ganha-se na explicitação do que era um pouco mais simbólico no filme<br />

anterior. Agora não restam dúvidas de que o Alien provém de uma espécie de<br />

abelha-rainha, poedeira compulsiva, que protege pessoalmente seus ovos. Eles<br />

não nascem prontos, como os filhotes dos répteis ou pássaros; os alienígenas<br />

saem dos ovos incompletos e então usam corpos humanos como casulos temporários,<br />

dos quais se alimentam, e que arrebentam ao sair, quando sua metamorfose<br />

estiver completa. Para tal fim, ela rapta vítimas para alimentá-los na<br />

fase de formação. Parece também contar com a ajuda de alguns de seus filhos<br />

mais crescidos, porém não há sinais de que lhe faça falta ser fecundada. O<br />

horror desses filmes está no poder destrutivo da criatura, mas repousa principalmente<br />

nessa cena de uso do corpo humano para proliferar.<br />

Nesse segundo episódio, que transcorre numa estação espacial onde<br />

todos foram dizimados pelo monstro, Ripley encontra uma menina, única sobrevivente<br />

do extermínio. É um consolo, pois sua filha única envelheceu e morreu<br />

durante os 57 anos em que ela vagou adormecida à deriva pelo espaço, após o<br />

episódio anterior. Sua filha não teve filhos, portanto, nenhum vínculo lhe resta;<br />

sua linhagem não proliferou e todos os seus já estão mortos.<br />

No mundo futuro que a série cria, as viagens interespaciais longas são<br />

possíveis graças a um aparelho de hibernação que suspende a vida temporariamente.<br />

Através desse artifício, o filme retoma tantos anos depois, e Ripley não<br />

envelheceu. Por isso, está disposta a tudo para proteger essa órfã, sua nova<br />

11 Beauvoir, Simone. O segundo sexo: a experiência vivida. São Paulo: Difusão Européia do livro,<br />

1960, p. 262.

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