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alegria da população, o chique das mulheres, a facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tudo se obter<br />
prontamente com dinheiro, a Comédia Francesa, a avenida dos Campos Elísios, a<br />
Vênus <strong>de</strong> Milo... Muito longe iria eu se tivesse <strong>de</strong> enumerar todas as coisas que só<br />
Paris tem e que só ela oferece ao estrangeiro. Só se admira essa cida<strong>de</strong> com inteira<br />
justiça, como ela merece, quando <strong>de</strong>la a gente se ausenta, e só se me<strong>de</strong> o quanto<br />
nos cativou, o quanto lhe queremos, quando a ela voltamos. E a cida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al para<br />
todos: para o sábio como para o boêmio, para o milionário como para o miserável. O<br />
trabalho e o prazer andam pelas ruas e pelos bulevares esplêndidos <strong>de</strong> braço dado,<br />
amigos inseparáveis que são, dando aos mais indolentes o <strong>de</strong>sejo imperioso <strong>de</strong><br />
trabalhar muito para gozar.<br />
Estas coisas está as dizendo agora o médico à sua dama, parado com ela<br />
junto ao bufete, em que lhe fora oferecer um refresco. Insensivelmente uma roda <strong>de</strong><br />
ouvintes, homens e mulheres, fora-se formando em torno <strong>de</strong>le, atraídos pela<br />
curiosida<strong>de</strong>, entre os quais Castrioto com a mulher, que sorria embevecida e<br />
orgulhosa <strong>de</strong> ouvir o irmão, e o próprio dono da casa; mas, não tendo reparado<br />
naquele auditório fortuito, Paulino continuava com ar natural e um calor <strong>de</strong><br />
expressão comunicativo:<br />
— E, <strong>de</strong>pois, que intuição artística prodigiosa a <strong>de</strong>sse povo! As mulheres<br />
pobres vestem-se com um trapo; mas um piparote dos seus <strong>de</strong>dos mágicos dá a<br />
esse trapo uma elegância e um chique encantadores, e as ricas tiram os veludos e<br />
às sedas parte da brutalida<strong>de</strong> insolente do luxo <strong>de</strong>sses estofos caros imprimindolhes<br />
uma simplicida<strong>de</strong> e uma graça <strong>de</strong>liciosas. Paris conce<strong>de</strong> aos milhões o direito<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>slumbrá-la com a condição, porém, <strong>de</strong> terem espirito, não admitindo o dinheiro<br />
estúpido, a riqueza sem inteligência.<br />
— Mas é um povo frívolo, todo <strong>de</strong> superfície — objetou a um lado uma voz<br />
<strong>de</strong> homem.<br />
Era o farmacêutico Honorato, que <strong>de</strong>ra aquele aparte para chamar a atenção<br />
<strong>de</strong> Santinha, a quem andava fazendo uma corte platônica, <strong>de</strong> longe, havia algumas<br />
semanas, e queria aproveitar aquela ocasião, a primeira em que se encontravam<br />
juntos.<br />
— Frívolo! Frívolo porque é alegre, superficial porque é artístico, inconstante<br />
porque é entusiasta, ignorante porque é simples. Ora, ai está! Um povo que dá à<br />
ciência, às letras e às artes tantos e tão gran<strong>de</strong>s vultos, esse povo é tão sério, tão<br />
fecundo, tão gran<strong>de</strong>, tão forte, tão nobre como o alemão, o inglês ou o russo. Frívola<br />
e ignorante a França! Entretanto é na França que todas as gran<strong>de</strong>s quando não<br />
nascem, são batizadas; é pela França que têm <strong>de</strong> passar forçosamente todas as<br />
gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scobertas científicas, todas as novas idéias morais, todas as reformas<br />
políticas, todas as escolas literárias, para que possam conquistar o mundo. Querem<br />
a imagem da França? É a torre Eiffel. Vista <strong>de</strong> longe é um joujou uma filigrana, uma<br />
tetéia recortada em papel Bristol: aproximem-se e encontrarão uma formidável mole<br />
<strong>de</strong> ferro, que <strong>de</strong>safia as tempesta<strong>de</strong>s do céu e os ultrajes dos séculos!<br />
— Bravos! Bravos!<br />
— Muito bem!<br />
— Muito bem! — exclamaram várias vozes em torno.<br />
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