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www.nead.unama.br<br />
— Atenção! A hora do gran<strong>de</strong> golpe aproxima-se. Preparar armas! —<br />
exclamou a experimentada mulher do Viriato, com um lampejo <strong>de</strong> orgulho nos olhos,<br />
como o <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> cabo <strong>de</strong> guerra ante a vitória próxima.<br />
Entretanto, Paulino caminhava ao acaso, apatetado, ainda corrido <strong>de</strong><br />
vergonha do papel que fizera. Ao cabo <strong>de</strong> meia hora, regressando ao consultório<br />
cheio <strong>de</strong> enfermos que o esperavam impacientes, tinha a sua resolução tomada,<br />
inabalavelmente, segundo pensava: partir. Não lhe restava outro recurso, <strong>de</strong>pois<br />
daquela cena; ela eqüivalera a uma confissão amorosa, e, <strong>de</strong>pois disso, ficar valeria<br />
tanto como trair o amigo. Mas resolveu partir sem preveni-lo, <strong>de</strong> repente. Para isso<br />
iria preparando tudo em segredo e rapidamente. O que lhe valia e o tranqüilizava um<br />
pouco era que, com a vida esparsa <strong>de</strong> diversões que levavam marido e mulher, ele<br />
pouquíssimo parava na Tijuca e assim poucos encontros po<strong>de</strong>ria ter com ela.<br />
Dentro <strong>de</strong> 15 dias, o mais tardar, tudo estaria acabado. Oh! Com que alegria<br />
se veria liberto do seu inferno <strong>de</strong> amor!<br />
CAPÍTULO XI<br />
INCIDENTES<br />
Passados os 15 dias improrrogáveis que Paulino havia marcado a si mesmo<br />
para cortar cerce e <strong>de</strong> uma vez com aquela situação intolerável, ansioso por terminar<br />
aquela dolorosa luta do seu caráter com o seu temperamento, residia ele ainda na<br />
mesma casa: não tinha podido partir.<br />
Motivo imprevisto e imperioso lho impedira. Fora esse motivo o estado <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fernando.<br />
Havia cerca <strong>de</strong> um ano que ele vivia extraordinariamente pelos nervos,<br />
fazendo um dispêndio excessivo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> mental e física.<br />
A sua vida tornara-se uma agitação constante, um continuo agir, <strong>de</strong>vido à<br />
multiplicida<strong>de</strong> e à complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negócios em que se envolvera, alucinado, como<br />
quase todos naquela época, pela febre do jogo da bolsa, pela se<strong>de</strong> <strong>de</strong> enriquecer<br />
rápido e muito, mal tremendo que, manifestado nos últimos meses <strong>de</strong> vida da<br />
Monarquia, se <strong>de</strong>senvolvera espantosamente nos primeiros da República, sob o<br />
Governo Provisório.<br />
Não <strong>de</strong>scansava quase, quase não dormia. Vivia agora mui pouco em casa,<br />
raramente voltando para jantar e entrando muitas vezes <strong>de</strong> madrugada.<br />
Não eram <strong>de</strong>certo só os negócios que o prendiam até tão tar<strong>de</strong> na cida<strong>de</strong>,<br />
como procurava fazer crer à esposa — aliás inutilmente —, mas sim a existência<br />
dissipada e <strong>de</strong>leitosa que contraíra e em que tinha por habitual companheiro o seu<br />
amigo Viriato, agora seu íntimo.<br />
Eram jantares caros nos melhores restaurantes, ceias ruidosas, regadas<br />
fartamente <strong>de</strong> champanha em gabinetes particulares, em Botafogo, no Jardim<br />
Botânico, no Daury, com Van<strong>de</strong>rbilts feitos à la minute e Coras Pearl <strong>de</strong> arribação,<br />
vindas do rio da Prata e algumas dos bordéis <strong>de</strong> Marselha e Bor<strong>de</strong>aux com rótulos<br />
<strong>de</strong> Paris, atraídas pelo cheiro da carniça fresca e abundante.<br />
Nesses jantares e nessas ceias, babujadas <strong>de</strong> beijos e <strong>de</strong> vinhos caros,<br />
tratavam-se, é verda<strong>de</strong>, grossos negócios, esboçavam-se planos <strong>de</strong> empresas<br />
maravilhosas ou fechavam-se transações comerciais avultadas; mas, em<br />
compensação, malbaratava-se também o dinheiro ganho a golpes <strong>de</strong> audácia e <strong>de</strong><br />
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