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Flor de Sangue - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Estava encontrada a porta <strong>de</strong> salvamento. Uma gran<strong>de</strong> alegria o invadiu<br />

então, como um bálsamo. Continuaria sendo um homem honrado, digno da amiza<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Fernando.<br />

E essa satisfação moral acalmou-o tão completamente que se <strong>de</strong>itou e<br />

adormeceu, momentos <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong> um sono profundo, pesado e sem sonhos, como o<br />

sono dos justos e das crianças.<br />

CAPÍTULO V<br />

TRATADO DE ALIANÇA<br />

No dia seguinte a essa noite, inolvidável para Paulino, Santinha veio visitar<br />

dona Sinhá.<br />

Era pouco mais <strong>de</strong> meio-dia quando chegou. Corina estava a uma das<br />

janelas do seu toucador, que dava sobre o fundo da chácara, e esperava que Alfred,<br />

o valet <strong>de</strong> chambre, saísse do belve<strong>de</strong>re, para ir cuidar dos livros, pequenos objetos<br />

e bibelôs <strong>de</strong> Paulino, quando Maurícia — a velha mucama mestiça, que a criara <strong>de</strong><br />

leite em casa do conselheiro e entrara no seu dote — penetrou no quarto e disse:<br />

— Dona Sinhá, nhá Santinha está aí.<br />

Corina voltou-se com um sobressalto, como se houvesse sido apanhada em<br />

ato ilícito; a mucama repetiu o recado. Surpreendia-a a visita da amiga. Esteve um<br />

momento para negar-se a recebê-la.<br />

— Você disse a ela que eu estava em casa, Maurícia?<br />

— Disse, sim senhora.<br />

— Bem; manda-a entrar.<br />

— Para aqui mesmo?<br />

— Sim, para aqui.<br />

E preparou-se para receber a amiga; <strong>de</strong>u um jeito rápido <strong>de</strong> <strong>de</strong>salinho aos<br />

cabelos, estirou-se na ca<strong>de</strong>ira gran<strong>de</strong>, tomou do livro mais à mão e simulou estar<br />

lendo atentamente.<br />

Enquanto esperava a visitante, com os olhos no livro, perguntava a si própria<br />

a que viria ela e, <strong>de</strong>pois, como recebê-la: friamente? Com calor?<br />

Havia quase dois meses que estavam interrompidas as visitas que se faziam<br />

uma à outra, duas e três vezes na semana, e as saídas a compras, a passeio, a<br />

visita <strong>de</strong> amigas comuns. A causa <strong>de</strong>sse esfriamento <strong>de</strong> relações tão intimas —<br />

causa inconfessada, antes dissimulada cuidadosamente – era o doutor Paulino.<br />

Santinha, insaciável loureira, que julgava <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>ver fazer-se cortejar por todos os<br />

homens novos, belos ou célebres, havia jurado aos seus <strong>de</strong>uses — ou ao seu <strong>de</strong>us,<br />

que era o filho <strong>de</strong> Vênus — que havia <strong>de</strong> disputar o recém-chegado à sua amiga<br />

intima, obrigando-o a fazer-lhe a corte, se a amá-la não pu<strong>de</strong>sse.<br />

Corina que percebera logo o plano, entrou <strong>de</strong> pronto a manobrar para<br />

combatê-lo e inutilizá-lo. Levara-a a isso, no princípio, apenas o amor próprio: se<br />

Paulino a alguma <strong>de</strong>las <strong>de</strong>via fazer a corte, era <strong>de</strong>certo, a ela, a quem conhecia há<br />

mais tempo, em cuja casa morava, e que era mais moça, mais bonita e mais<br />

elegante. Preferir-lhe a amiga seria injuriá-la, feri-la <strong>de</strong> morte no ponto mais <strong>de</strong>licado<br />

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