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Paulino lembrou-se então que a alcaiota lhe dissera que estava reservando<br />
aquela rapariga para o "Comendador".<br />
— E <strong>de</strong>pois? — perguntou.<br />
— Ontem, já muito tar<strong>de</strong>, dona Felisberta foi me buscar. Eu não queria vir,<br />
tinha medo àquela hora... Mas a mulher explicava que o moço tinha chegado <strong>de</strong><br />
uma viagem e queria por força me conhecer, que era só para ele me conhecer e eu<br />
conhecer ele; que era só para conversar... Se me agradasse, entonces... E mamãe,<br />
que tem muita confiança em dona Felisberta, me mandou vir com ela, certa <strong>de</strong> que<br />
não havia <strong>de</strong> suce<strong>de</strong>r nada. E eu vim. Ela me trouxe para este quarto, me <strong>de</strong>spiu,<br />
botou cheiro na minha camisa, me disse que esperasse um bocado, que ela ia<br />
buscar o moço. Eu chorei, tive medo... Um home que eu não conhecia! Mas...<br />
<strong>de</strong>pois... não sei mais nada. Dormi, parece. O moço era você?<br />
— Era eu, sim, e dormi um pouco a seu lado, sobre as roupas da cama, mas<br />
sem tocar no seu corpo.<br />
— Como você é bom! E é tão bonito! — exclamou, com uma expansão <strong>de</strong><br />
admiração infantil. — Havemos <strong>de</strong> viver muito bem, muito felizes, se você se agradar<br />
<strong>de</strong> mim. Eu sou uma pobre caipirinha... não sei nada... Mas sou muito quieta, muito<br />
mansa, verá... Olhe, conheço você há meia hora, e já gosto muito <strong>de</strong> você, acredita?<br />
Mas... por que tem esse ar tão triste? Não é feliz? Não lhe agrado? Diga! — e,<br />
meigamente, tomava-lhe as mãos.<br />
Ele teve um sorriso <strong>de</strong> tristíssima ironia; mas, em vez <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r-lhe,<br />
perguntou-lhe: — Então nunca teve relações com outro homem senão seu marido?<br />
— Lhe juro por este breve bento que não! — Exclamou ela, puxando do seio<br />
um cordão <strong>de</strong> ouro fino, <strong>de</strong> que pendiam bentinhos, figas, corais torcidos, e beijando<br />
um dos escapulários.<br />
— Muito bem, agora responda-me: quer viver honestamente com sua mãe,<br />
garantida <strong>de</strong> privações?<br />
— Uê, gentes, pois isso é coisa que se pergunte?<br />
— Então, ouça... Mas antes diga-me ainda: você não tem algum parente<br />
sério, capaz <strong>de</strong> dar-lhe bons conselhos em relação a negócios, a dinheiro?<br />
— Tenho, sim, meu padrinho, seu Manuel Vicente, que é tipógrafo <strong>de</strong> um<br />
jornal. O <strong>de</strong>feito <strong>de</strong>le, coitado, é ser pobre; mas tem muito juízo e todos lhe querem<br />
bem.<br />
— Tanto melhor; escute. Aqui neste embrulho estão <strong>de</strong>z contos e quinhentos<br />
mil-réis. Os <strong>de</strong>z contos são para você; os quinhentos mil-réis para você distribuir<br />
com os pobres, em minha intenção. Você irá procurar seu padrinho e lhe entregará<br />
este dinheiro com um cartão meu, em que vou escrever que fui eu que lho <strong>de</strong>i.<br />
E Paulino pôs o dinheiro sobre a beira da cama, e tirando um cartão,<br />
escreveu-lhe a lápis, no dorso! "Entrego nesta data a...<br />
— Como se chama? — perguntou ele, levantando os olhos para a rapariga.<br />
Ela não pô<strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r-lhe logo: chorava, com o lençol comprimido aos<br />
olhos; mas, pouco <strong>de</strong>pois, tartamu<strong>de</strong>ou:<br />
— Corina... Corina Amélia <strong>de</strong> Sousa.<br />
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