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Flor de Sangue - Unama

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www.nead.unama.br<br />

exasperava-me; a idéia <strong>de</strong> que o vias todos os dias e lhe falavas e que jantavam e<br />

passeavam juntos punha-me louca <strong>de</strong>...<br />

— De inveja... — interrompeu com malda<strong>de</strong> a outra.<br />

— Seja <strong>de</strong> inveja. Mas, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> alguns dias, tive a prova <strong>de</strong> que o não<br />

amava.<br />

— Ah! E po<strong>de</strong>-se saber qual foi essa prova? — perguntou a voz irônica <strong>de</strong><br />

Corina.<br />

— Posso eu, por ventura, ter segredos para ti, minha querida? A prova que<br />

tive <strong>de</strong> que não amava o Paulino foi simplesmente esta: conheci que amava a outro.<br />

— O boticário? — perguntou Corina. Mas <strong>de</strong>sta vez, com uma ironia tão<br />

mor<strong>de</strong>nte, tão agressiva, que a mulher <strong>de</strong> Viriato lhe respon<strong>de</strong>u, muito séria, com<br />

voz trêmula:<br />

— Para que me falas com essa ironia, com essa malda<strong>de</strong>? Se continuas<br />

nesse tom, vou-me embora. E eu que vim tão contente, tão arrependida, tão<br />

disposta a tudo te dizer, com a maior sincerida<strong>de</strong>!<br />

Levou o lenço aos olhos. Chorava como uma criança. Corina comoveu-se;<br />

aquele pranto <strong>de</strong>sarmou-a, fê-la acreditar na sincerida<strong>de</strong> da amiga.<br />

— Perdoa-me, Santinha, perdoa-me! — e abraçava-a e beijava-a. — Mas é<br />

tão estranho tudo isto: a tua visita inesperada, as coisas extraordinárias que me tens<br />

dito, que eu, involuntariamente, <strong>de</strong>sconfiei e preveni-me contra ti. Mas agora creio<br />

que és sincera. Perdoa-me e continua.<br />

— Não, não se trata <strong>de</strong> Honorato — volveu Santinha enxugando os olhos e<br />

com a voz úmida ainda. Esse moço fez-me a corte <strong>de</strong> um modo tão rápido e cerrado<br />

que eu, no primeiro momento, meio aturdida, não pu<strong>de</strong> repeli-lo. Mas, pouco <strong>de</strong>pois,<br />

refleti e consegui conservá-lo a distância conveniente, o que me foi fácil, porque era<br />

Paulino que eu queria, que eu julgava amar. E <strong>de</strong> outro que se trata, que há apenas<br />

um mês conheço e a quem amo perdidamente. Oh! Não sorrias, não duvi<strong>de</strong>s! Desta<br />

vez te juro que é sério, não é como das outras — um mero capricho; é o amor, o<br />

verda<strong>de</strong>iro amor!<br />

— Ora, Santinha, tenho-te ouvido dizer isso, e quase pelas mesmíssimas<br />

palavras, a respeito <strong>de</strong> todos os teus amantes. Ainda não há um ano o dizias em<br />

relação aos Barros, o "boneco <strong>de</strong> louça"; já te não lembras?<br />

— É possível, mas não o dizia <strong>de</strong>ste modo, com este calor, este entusiasmo<br />

sincero. Desta vez estou apaixonada loucamente.<br />

— E quem é esse príncipe encantado, que conseguiu abrasar <strong>de</strong> puro amor<br />

o coraçãozinho da fada borboleta?<br />

— E, é... — Santinha hesitava. — Mas não te rias. E o João Ferry.<br />

— O Ferryzinho? Mas é uma criança!<br />

— Ah! Tu o conheces?<br />

— O Fernando mostrou-mo na rua, e <strong>de</strong>pois ouvi-o recitar uns versos, no<br />

festival da Gemma Cunibertti, creio eu. Podia ser teu filho, Santinha.<br />

A mulher <strong>de</strong> Viriato corou até a raiz dos cabelos; mas, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um<br />

momento <strong>de</strong> silêncio, tornou, com um tom contrafeito:<br />

— Que queres tu? Caprichos da sorte! Eu tinha-o lido. Decorei mesmo<br />

algumas das poesias dos Rondós e Baladas. Seus versos encantaram-me, tão<br />

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