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los. Eram moços, fortes, bonitos e amavam-se: que se arranjassem! Não seria ela<br />
quem o impediria. Ora! Não há coisa melhor na vida! O marido? Que tinha lá isso? O<br />
que se não sabe não existe e quem não goza é tolo. Ela gozara o quanto pu<strong>de</strong>ra e<br />
não se consi<strong>de</strong>rava ainda nenhum peixe podre. Por que havia então <strong>de</strong> impedir que<br />
os outros fizessem o mesmo? Ao contrário, havia <strong>de</strong> favorecer aquele casal <strong>de</strong><br />
pombos no que lhe fosse possível.<br />
Tal era a moral <strong>de</strong>ssa matrona e tal fora a resolução por ela tomada em<br />
relação ao romance amoroso que a seus olhos se <strong>de</strong>senrolava.<br />
Assim, pois, a sua presença, longe <strong>de</strong> ser um estorvo, era um estimulo —<br />
mais um meio inventado pelo famoso diabrete invisível para perdê-lo, pensaria<br />
Paulino, se já pensasse em alguma coisa que não fosse morrer <strong>de</strong> amor por aquela<br />
mulher <strong>de</strong>liciosa. Mas, como era instintivamente honesto e leal, não procurava<br />
encontrar ocasiões nem aproveitar as que a ação combinada e misteriosa do acaso<br />
e da viúva lhe proporcionava.<br />
A sua situação era comparável à <strong>de</strong> um homem <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> que se exce<strong>de</strong><br />
a beber num dia <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> júbilo: sabe-se ébrio, não reage contra o seu estado,<br />
porém na inconsciência dos atos que pratica não lhe escapa uma palavra<br />
incoveniente, nem um gesto obsceno. Inteiramente embriagado <strong>de</strong> amor, excitado<br />
pelas conversas da viúva, guardava Paulino, entretanto, a sua correção <strong>de</strong><br />
cavalheiro e não pensava em aproveitar-se da situação propícia em que se<br />
encontrava: o <strong>de</strong>moninho que o perseguia ainda tinha que suar um pouco mais os<br />
chavelhos para cantar vitória.<br />
Quanto a Corina, o seu trabalho estava concluído: Santinha e Chiquita<br />
haviam tudo preparado; aquela, <strong>de</strong> longa data, com instigações diretas e conselhos<br />
provectos; esta com a educação que <strong>de</strong>ra à filha adotiva e agora com a sua<br />
con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte cumplicida<strong>de</strong> indireta.<br />
Da última vez que a mulher do Viriato lá estivera, tinha-lhe dito:<br />
— É agora, menina. Atira-lhe o gran<strong>de</strong> golpe: é infalível, hás <strong>de</strong> ver.<br />
Uma tar<strong>de</strong>, ao sentar-se à mesa para jantar, notou o médico a ausência da<br />
viúva, e como visse Corina servir a sopa perguntou por ela.<br />
Fora a casa para arejá-la e reunir uns papéis do marido.<br />
— E <strong>de</strong>mora-se?<br />
— Três ou quatro dias apenas — respon<strong>de</strong>u Corina, com um sorriso e um<br />
olhar em que louquejava uma alegria irreprimível.<br />
O jantar correu frio; pouco falaram, constrangidos.<br />
— Que falta nos faz mamãe, não é?<br />
— Realmente, se ela é tão alegre, tão comunicativa!<br />
— Uma verda<strong>de</strong>ira criança. Sempre a conheci assim.<br />
Depois do jantar entretiveram-se, como <strong>de</strong> costume, em passear longamente<br />
na chácara, mas não <strong>de</strong> braço, <strong>de</strong>sta vez, por conservar-se Paulino sempre um<br />
pouco afastado à noite fizeram música; cantaram um dueto do Fausto, conversaram<br />
banalida<strong>de</strong>s...<br />
Paulino estava visivelmente agitado, trabalhado pelos seus nervos. Sentiase<br />
febril, tinha arrepios estranhos e uma espécie <strong>de</strong> langui<strong>de</strong>z invencível nos braços,<br />
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