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Flor de Sangue - Unama

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www.nead.unama.br<br />

O moço sentiu um ligeiro choque nervoso em todo o corpo, mas nada disse,<br />

receando que lhe tremesse a voz, e esperou. Fernando continuou:<br />

— Teu amigo como sou e sabes, consi<strong>de</strong>rei que era um <strong>de</strong>ver da minha<br />

parte contar-te o que vais ouvir. Trata-se da Ma<strong>de</strong>lon...<br />

Paulino encarou-o surpreendidíssimo, e foi com dificulda<strong>de</strong> que reteve uma<br />

risada, tão imprevista e tão cômica lhe pareceu a revelação <strong>de</strong> que o tal assunto<br />

<strong>de</strong>licado e grave era a petite Ma<strong>de</strong>lon.<br />

Mas limitou-se a respon<strong>de</strong>r:<br />

— Ah! Trata-se da Ma<strong>de</strong>lonette? Então que é?<br />

— Essa mulher engana-te, Paulino; não te é nada fiel.<br />

— Porém... — E Paulino ia dizer que estava farto <strong>de</strong> sabê-lo e pouco se<br />

importava com isso, não se consi<strong>de</strong>rando seu amante único, não tendo ménage com<br />

ela; mas o amigo, supondo talvez que ele ia repelir aquela idéia e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a<br />

amante, apressou-se em pingar os ii.<br />

— Sim, engana-te. Tenho provas. Tenho visto entrar-lhe em casa mais <strong>de</strong><br />

um sujeito bem conhecido e a mim mesmo escreveu-me ela uma carta...<br />

— Pedindo dinheiro?<br />

— Como sabes?<br />

— Isso adivinha-se logo. Essas mulheres só escrevem para pedir dinheiro e<br />

sempre com uma fome na razão inversa da ortografia.<br />

— Na verda<strong>de</strong>, ela não pe<strong>de</strong> dinheiro claramente. Mas pe<strong>de</strong>-me que vá<br />

visitá-la para conversar sobre um negócio...<br />

— E você, que fez? — perguntou Paulino — Caiu com o cobre?<br />

— Nada respondi. Ela é tua amante...<br />

— Minha e do senhor. Todo Mundo...<br />

– Não; é tua amante, pouco importa que infiel. Sei que gostas <strong>de</strong>la. E eu<br />

seria incapaz <strong>de</strong> semelhante <strong>de</strong>slealda<strong>de</strong>. Essa mulher para mim não existe.<br />

Paulino, que ao ouvir estas palavras, ditas em tom quase solene, tornara-se<br />

extremamente sério, perguntou-lhe:<br />

— Mas você gosta <strong>de</strong>la?<br />

— Confesso-te que lhe acho uma certa graça, um certo cachet. Tem um<br />

chique, um ar vicioso <strong>de</strong> bulevar que me tenta. Ah! Se ela não estivesse contigo, eu<br />

já teria mordido nesse fruto do pecado, isso confesso-o. Adoro essa espécie <strong>de</strong><br />

beleza — la beauté du diable. Mas eu respeito muito essas coisas. Não enganaria<br />

nunca um amigo, mesmo com sua amante, embora tendo a certeza <strong>de</strong> que ela o<br />

enganava com meio mundo. Não faltam mulheres por ai, que diabo! Não achas?<br />

— Sim, são escrúpulos nobres, que eu talvez não tivesse nas condições que<br />

você figurou, mas que sou o primeiro a respeitar. Entretanto, no caso da Ma<strong>de</strong>lon,<br />

<strong>de</strong>vo dizer-lhe que os seus escrúpulos são perfeitamente <strong>de</strong>scabidos. Ma<strong>de</strong>lon não<br />

é mais minha amante. Passam-se agora <strong>de</strong> seis a oito dias que a não vejo nem sei<br />

notícias <strong>de</strong>la. As nossas relações constam quase exclusivamente <strong>de</strong>stes dois atos:<br />

ela a pedir-me dinheiro e eu a mandar-lho, por uma con<strong>de</strong>scendência perfeitamente<br />

estúpida em relação a essa espécie <strong>de</strong> gente. Por isso, meu caro Fernando, não<br />

faça você cerimônia. Se a Ma<strong>de</strong>lon lhe agrada, atire-se, que nós, monsieur Tout le<br />

Mon<strong>de</strong> et moi, lhe conce<strong>de</strong>mos ampla licença.<br />

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