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Muitos corpos, uma só Alma

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Brian L. Weiss <strong>Muitos</strong> <strong>corpos</strong>, <strong>uma</strong> <strong>só</strong> <strong>Alma</strong><br />

- Ela também é advogada?<br />

- Não, mas está n<strong>uma</strong> profissão aliada. É actriz. Conheci-a no meu segundo ano de Direito<br />

em Harvard. Fui a um espectáculo de O Conto de Inverno, no Brattle Street Theatre, e fiquei<br />

tão atordoado com a sua Perdita que fui aos bastidores e convidei-a para sair. Foi para<br />

minha sorte eterna que ela disse que sim nessa altura e que sim quando a pedi em<br />

casamento há cinco anos.<br />

- Os seus pais aprovaram?<br />

- «Herdeiro de Boston desposa actriz humilde»? Não sei como se sentiram de início. Como<br />

disse, eles deixam-me fazer as minhas próprias escolhas de vida. Mas agora adoram-na.<br />

- Têm filhos?<br />

- Nenhum. Mas isso vai deixar de ser verdade daqui a cinco meses. A amniocentese diz<br />

que é um rapaz. Voilà. A linhagem continua! O nome é continuado!<br />

Ele disse-me tudo isto com <strong>uma</strong> sensação de prazer, até de divertimento. Depois inclinouse<br />

para a frente e a sua expressão ensombrou-se.<br />

- Dr. Weiss, é mesmo essa a questão. Eu amo os meus pais, tive <strong>uma</strong> infância maravilhosa,<br />

tenho <strong>uma</strong> mulher espectacular, sou bem educado, bem alimentado, bem vestido e tenho<br />

<strong>uma</strong> boa casa. Temos dinheiro suficiente para evitar qualquer desastre ou para nos levar a<br />

qualquer lugar do planeta a que queiramos ir. Sou verdadeiramente o homem sem <strong>uma</strong><br />

única preocupação. No entanto, quando penso nestas coisas, e muito embora saiba que<br />

são verdade, há um problema fundamental: o homem que acabei de descrever não é o<br />

homem que vive dentro da minha pele.<br />

Esta última frase foi acompanhada por um soluço e um olhar de angústia tão intenso que eu<br />

pensei mesmo que estivesse a olhar para um homem diferente.<br />

- Pode ser mais específico? — perguntei. Ele recuperou com um esforço.<br />

- Quem me dera poder ser. Quando tento colocar por palavras aquilo que sinto, soa a<br />

queixume. As queixas irri<strong>só</strong>rias de um narcisista demasiado privilegiado.<br />

- Não interessa ao que soa, e obviamente as queixas não são irri<strong>só</strong>rias. Você está a sofrer.<br />

Ele lançou-me um olhar de gratidão e respirou fundo.<br />

- Muito bem. Aqui vai: não sei porque fui posto nesta Terra. Sinto-me como se estivesse a<br />

patinar num lago gelado chamado vida e que debaixo da água há <strong>uma</strong> profundidade de<br />

trinta metros. Sei que devia nadar nele, que seria bom se pudesse experimentá-lo, mas não<br />

sei quebrar o gelo. Estou confuso acerca do meu lugar no mundo. Sim, estou feliz por<br />

trabalhar para o meu pai, mas <strong>só</strong> existe <strong>uma</strong> definição de mim: o filho do meu pai. Eu sou<br />

mais. E sou mais do que outra definição: bom marido prestes a tornar-me bom pai. Valhame<br />

Deus - prosseguiu, com as palavras a soar espantosamente alto no meu consultório -,<br />

eu sou invisível. A vida limita-se a assobiar através de mim como o vento.<br />

A sua necessidade de respostas era profunda, eu sabia. Mais do que queixumes, as suas<br />

queixas eram existenciais, um grito por <strong>uma</strong> definição que ele não tinha sido capaz de<br />

encontrar.<br />

Talvez tivesse andado a procurar no sítio errado.<br />

David contou-me que quando usava os meus CDs em casa geralmente ficava tão relaxado<br />

que adormecia. Não há nada de mal nisso; significa simplesmente que a pessoa está a ir<br />

muito fundo. Mas a sua «prática» anterior facilitou a indução hipnótica no meu consultório.<br />

Em minutos, ele estava num transe profundo.<br />

- Estamos no século XII - disse ele lentamente, como se estivesse a tentar espreitar a sua<br />

vida pelo lado de fora. - Sou <strong>uma</strong> freira, a Irmã Eugenie, e trabalho num hospital na periferia<br />

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