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Brian L. Weiss <strong>Muitos</strong> <strong>corpos</strong>, <strong>uma</strong> <strong>só</strong> <strong>Alma</strong><br />
- É um começo - disse eu. - Ainda bem para si.<br />
Os seus olhos húmidos inundaram-se e ele inclinou a cabeça.<br />
- Não, ainda mal para mim.<br />
- Porquê? Parece... Ele interrompeu-me.<br />
- Eu tenho sida. Não quero infectar ninguém com ela.<br />
O seu estado geral de saúde vinha-se deteriorando há alguns meses, disse-me ele. Tinha<br />
<strong>uma</strong> úlcera gástrica e a sua marca de nascença no abdómen tinha recente e<br />
inexplicavelmente começado a sangrar. Em pânico, fez <strong>uma</strong> biopsia, mas não foi<br />
encontrado nenhum cancro e ele ficou aliviado. Ainda assim, a grande cicatriz que ficou no<br />
sítio de tempos a tempos ficava vermelho beterraba e deitava <strong>uma</strong> gota ou duas de sangue.<br />
Isto levou-o ao seu médico, que diagnosticou sida.<br />
- Mais <strong>uma</strong> confirmação dos meus medos do que um diagnóstico - disse ele.<br />
Foram realizados testes. O diagnóstico fora confirmado há duas semanas. Por causa disso,<br />
ele tinha marcado <strong>uma</strong> consulta comigo.<br />
Eu podia ajudá-lo com a sua ansiedade e a sua relação com Frank, disse eu, mas não<br />
podia curá-lo da doença, embora fossem agora largamente usados «cocktails» que iriam<br />
abrandar a progressão da doença e acrescentar anos à sua vida.<br />
A sua expressão era profundamente triste.<br />
- Os anos extra não servem de nada a menos que eu consiga recompor a minha vida.<br />
- Então, deixe-me perguntar-lhe: os seus pais sabem que é homossexual?<br />
- Sabem sim. Escondi-o deles enquanto pude, até inventei <strong>uma</strong> namorada da Califórnia<br />
sobre a qual lhes escrevi, mas, quando eu e o Frank nos mudámos para aqui e começámos<br />
a viver juntos, eles descobriram.<br />
- A reacção deles?<br />
- Choque. Negação. Acredite ou não: «Não há nenhum medicamento que possas tomar?»<br />
Acho que estão mais preocupados que os amigos saibam do que com outra coisa. Afinal de<br />
contas, é o Médio Oeste, e eles estão cerca de um século atrasados em relação ao resto do<br />
país. - Pôs a mão na testa num gesto teatral. - A vergonha!<br />
Eu ri-me, apesar de não querer.<br />
- São boas pessoas, pessoas carinhosas, apenas ignorantes neste assunto - prosseguiu. -<br />
Quando vou a casa de visita, eles cumprimentam-me com amor e respeito. O problema é o<br />
meu irmão.<br />
- O seu irmão?<br />
- Acho que me esqueci de mencioná-lo. Sim, o Ben é um gajo importante de Milwaukee.<br />
Vice-presidente sénior da Aetna. Montes de dinheiro, montes de amigos, montes de poder.<br />
Os republicanos balouçaram a palavra congressista à frente dos seus olhos e ele está a<br />
salivar atrás dela como um cão a seguir o rasto.<br />
- E um irmão gay...? Encolheu os ombros.<br />
- Adeus Washington. Ele veio ver-me há cerca de um ano e chegou a pedir-me que<br />
mudasse o meu nome. Eu disse-lhe para se ir lixar. Ele insistiu: «Podia ser bom se<br />
desaparecesses por uns tempos. Pelo menos não digas a ninguém que és meu irmão.»<br />
Bem, aquela bateu-me. Como é que ele se atreve! Eu sou tão bom como ele - melhor -,<br />
embora o meu amante seja um homem. Fui atrás dele. A minha última visão dele foi o seu<br />
rabo vergonhoso a descer a correr a Coral Way.<br />
Se este foi um dos seus ataques de fúria, pareceu-me justificado. Eu disse-lhe isso.<br />
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