15.04.2013 Views

Muitos corpos, uma só Alma

Muitos corpos, uma só Alma

Muitos corpos, uma só Alma

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Brian L. Weiss <strong>Muitos</strong> <strong>corpos</strong>, <strong>uma</strong> <strong>só</strong> <strong>Alma</strong><br />

Ele contou-me tudo isto num instante, com o seu esquelético rosto exausto e sombrio, e os<br />

olhos cheios de pesar.<br />

- Daí o sonho - disse ele. - Pode ver porque é que foi tão poderoso.<br />

- Porque é que a ideia de bancarrota é inconcebível? - perguntei. - Parece ser a única<br />

solução razoável.<br />

- Porque prova que o meu pai tinha razão.<br />

- Em relação a quê?<br />

- «Meu rapaz, tu nunca vais conseguir nada na vida.» Se o disse <strong>uma</strong> vez, disse-o mil<br />

vezes.<br />

- Ele já faleceu?<br />

- Há doze anos.<br />

- Mas você lembra-se das palavras dele.<br />

- Sou atormentado por elas. O meu pai era um homem forte, Dr. Weiss. A minha mãe<br />

morreu quando eu tinha três anos e ele criou-me sozinho. Era trabalhador da construção<br />

civil, um homem das obras, mas nunca saiu para beber com os colegas, nunca encontrou<br />

outra mulher - não procurou nenh<strong>uma</strong> -, nunca fez nada a não ser cuidar de mim,<br />

preocupar-se comigo, poupar o seu dinheiro para mim. Por Deus, dizia ele, eu seria o<br />

primeiro da família a ir para a faculdade. Ele queria que eu fosse advogado, ou médico, ou<br />

cientista. Eu iria deixá-lo orgulhoso.<br />

- Eu tentei, a sério que tentei, mas não consegui dominar a Matemática, nem a Química,<br />

nem a Física, a minha mente simplesmente não é lógica. Não podia ser advogado, nem<br />

trabalhador da construção civil.<br />

- Não é preciso ter-se <strong>uma</strong> mente lógica para se ser trabalhador da construção civil.<br />

- Não, mas é preciso força. - Ele pôs-se de pé e abriu os braços. - Olhe para mim.<br />

O que eu vi era um homem comum que podia ser descrito como «constituição média, altura<br />

média». Não era a sua figura que lhe impedia o trabalho físico, era a sua auto-imagem.<br />

- Eu estava interessado em Arte - continuou - egípcia, grega, romana, renascentista. No<br />

meu segundo ano em Tulane, decidi licenciar-me em História da Arte, mas <strong>só</strong> no meu<br />

terceiro ano é que contei ao meu pai.<br />

- O que é que aconteceu?<br />

Os seus lábios crisparam-se de raiva.<br />

- «Meu rapaz, tu nunca vais conseguir nada na vida.» Chamou-me maricas, bicha,<br />

intelectual - não podia haver nada pior. Eu tinha-o traído, despedaçado as suas esperanças,<br />

era a prova de que ele tinha desperdiçado a sua vida. «Quem me dera ter tido <strong>uma</strong><br />

rapariga», disse ele. Para ele, ser-se rapariga era quase tão mau como ser-se intelectual.<br />

- Ele renegou-o?<br />

- Pior. Continuou a pagar as minhas propinas, o meu quarto e as minhas refeições. Disse<br />

que não tinha mais nada para fazer com o seu dinheiro, que estava demasiado velho para<br />

começar <strong>uma</strong> vida. Quando eu vinha a casa de férias e nos feriados, ele era cordial.<br />

Cordial, como se eu fosse um estranho, suponho que era. Depois de começar o meu<br />

negócio, tentei pagar-lhe, mas ele rasgou o primeiro cheque que lhe entreguei, e eu nunca<br />

mais tentei. Fazer-me sentir culpado era a vingança dele, e conseguiu.<br />

- Você estava debaixo de <strong>uma</strong> pressão extraordinária - disse eu. - É difícil fingir ser-se<br />

aquilo que não se é, e ainda mais duro ser-se desprezado por aquilo que se é. - O seu olhar<br />

de autopiedade testemunhava a verdade disto. - Mas você construiu <strong>uma</strong> vida para si<br />

136

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!