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Muitos corpos, uma só Alma

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Brian L. Weiss <strong>Muitos</strong> <strong>corpos</strong>, <strong>uma</strong> <strong>só</strong> <strong>Alma</strong><br />

estava na cama. E havia os convidados de negócios. A minha presença nesses jantares era<br />

estritamente proibida. O papá era aquilo que se chamava um «financiador internacional», o<br />

que quer que isso signifique. Apareciam todos os tipos de banqueiros ilustres, juntamente<br />

com um ou outro ditador deposto de algum país sul-americano e de tempos a tempos um<br />

pedante europeu. A Margaret Thatcher dormiu lá <strong>uma</strong> vez. Foi <strong>uma</strong> emoção.<br />

- Aposto que sim. Mas não muito boa para um miúdo pequeno.<br />

- Nada boa - disse John. - Sempre senti que era menos importante para o meu pai do que<br />

os seus <strong>só</strong>cios.<br />

- E para a sua mãe?<br />

- Menos importante do que o meu pai.<br />

Isto foi dito como <strong>uma</strong> espécie de piada, mas eu consegui sentir a dor subjacente. A sua<br />

mãe tinha centrado a sua atenção no seu pai, não nele.<br />

- Não há irmãos?<br />

- Sou filho único. Eles não tiveram tempo para negligenciar mais do que um.<br />

- Então e amigos de infância?<br />

- Dezenas de conhecidos, nenhum amigo chegado. Os meus pais davam enormes festas<br />

de aniversário para mim, e parecia que todas as crianças da Florida apareciam, mas eu<br />

apercebi-me rapidamente de que estavam ali pela comida, os favores e as cavalgadas nos<br />

póneis, não por eu estar perto dos seus corações. Até os meus colegas da escola eram<br />

apenas isso - colegas. Eles também tinham todos amas - controladas de perto -, por isso<br />

não tínhamos oportunidade de fazer travessuras. Ainda agora tenho inveja quando oiço<br />

falar de bandos de rua ou reformatórios. Parece-me a mim que esses rapazes tiveram mais<br />

sorte do que eu.<br />

As suas pequenas ironias tapavam grandes feridas, pensei. É difícil ser-se um adereço nas<br />

vidas dos pais. Eu sabia pelas notas que o meu assistente tinha tomado quando John<br />

telefonou pela primeira vez para marcar consulta que ele nunca tinha procurado a psicoterapia<br />

antes, apesar de a sua infelicidade durar há muito, e fiquei a pensar que incidente<br />

específico o teria impelido a vir ter comigo.<br />

- Portanto, você cresceu demasiado enclausurado? - perguntei.<br />

- É a definição perfeita. Eu era como <strong>uma</strong> tapeçaria nas paredes deles, muito bem feita e<br />

bonita, mas nada mais do que um adorno. - Ele ficou a pensar por um momento. - Ainda<br />

assim, acredito que me amavam à maneira deles.<br />

- Então e a faculdade? Com certeza que conseguiu escapar nessa altura.<br />

- O caminho todo até à Universidade do Sul da Califórnia.<br />

- E a sua vida mudou?<br />

- Durante os três meses em que lá estive.<br />

- Foi expulso?<br />

- Ah não, nada de tão dramático. Desisti.<br />

- Porquê?<br />

- Porque o trabalho era muito duro.<br />

- Odiava estudar?<br />

- Não conseguia estudar. Não fazia sentido. Por isso era muito duro agarrar num livro ou<br />

num tubo de ensaio.<br />

- Não fará sentido conseguir um diploma?<br />

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