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Muitos corpos, uma só Alma

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Brian L. Weiss <strong>Muitos</strong> <strong>corpos</strong>, <strong>uma</strong> <strong>só</strong> <strong>Alma</strong><br />

tremiam ligeiramente. Fadiga, pensei. Ela queixou-se de asma, e em alturas de stresse isso<br />

era evidente na sua respiração, mas foram os seus problemas psicológicos que a levaram a<br />

pedir a minha ajuda.<br />

Encorpada sem ser gorda, ela transpirava o que se revelou ser <strong>uma</strong> ambígua impressão de<br />

força dentro de <strong>uma</strong> sexualidade palpável, e desde o início alternou entre olhar para mim de<br />

frente, de modo quase hostil, e desviar os olhos dos meus com um recato latino que sugeria<br />

<strong>uma</strong> educação aristocrática rígida. Achei que teria vinte e muitos anos; afinal tinha mais<br />

dez. Usava um anel no quarto dedo da mão esquerda, um grande rubi que combinava com<br />

a extravagância das suas roupas, e eu fiquei a pensar se seria decoração ou um anúncio de<br />

casamento.<br />

- Divorciada - disse ela, reparando no meu olhar. — Duas filhas. Uso o anel porque é bonito<br />

e porque assusta os pretendentes.<br />

O seu inglês era elegante, impecável, no entanto consegui detectar vestígios de um<br />

sotaque.<br />

- Você não é de Miami - disse eu, <strong>uma</strong> afirmação, não <strong>uma</strong> pergunta.<br />

- São Paulo, Brasil.<br />

- Ah. E mudou-se para cá quando?<br />

- Há três anos. Para me juntar ao meu pai depois do meu divórcio.<br />

- Vive com ele, então?<br />

- Não, não. Ele vive com a minha mãe em Bal Harbour. Eu estou a alguns quilómetros de<br />

distância.<br />

- Com os seus filhos?<br />

- Sim. As meninas. A Rosana tem sete anos, a Regina cinco. São muito queridas.<br />

- Então quando diz que veio para se juntar ao seu pai...<br />

- Para trabalhar com ele. Para estar com ele no seu negócio.<br />

- Que é o quê?<br />

- A sério? Não sabe? Recuperei o meu nome de solteira depois do divórcio, e pensei que o<br />

reconheceria.<br />

E claro! Que estúpido que eu sou. Devia ter estabelecido a ligação de imediato. O pai dela<br />

era director de <strong>uma</strong> empresa especializada em vestuário sofisticado. Nos últimos dois anos,<br />

tinha-se expandido para <strong>uma</strong> linha de sportswear mais jovem, menos dispendiosa, que a<br />

minha mulher Carole mais tarde me disse ser era a coisa certa a vestir se se fosse<br />

adolescente. Perguntei se a mudança de Cristina coincidia com o novo negócio do seu pai.<br />

- Por coincidência - disse ela. - Eu não tomo decisões e não tenho voz no planeamento. -<br />

Os seus olhos brilharam de raiva. - Sou pouco mais do que <strong>uma</strong> criada com o seu próprio<br />

gabinete.<br />

- E isso é frustrante para si?<br />

- Frustrante? É enfurecedor! - Ela inclinou-se para mim e falou com <strong>uma</strong> paixão que a fez<br />

tremer. - Meu Deus, o que eu podia fazer se ele me deixasse! Ele faz roupa para mulheres<br />

mas não acredita que as mulheres devam ter a última palavra acerca da sua aparência. O<br />

meu olho para o negócio é duas vezes melhor do que o dele. Sou duas vezes mais esperta.<br />

As roupas dele eram <strong>uma</strong> moda, e, como todas as modas, tornaram-se obsoletas. As<br />

pessoas já deixaram de comprar. As minhas roupas seriam intemporais.<br />

Cristina, pensei eu, seria capaz de realizar tudo o que se propusesse fazer.<br />

- Mas ele não lhe dá ouvidos? - perguntei.<br />

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