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Brian L. Weiss <strong>Muitos</strong> <strong>corpos</strong>, <strong>uma</strong> <strong>só</strong> <strong>Alma</strong><br />
- O senhor não compreende. Se a minha mulher descobrir, vai contar ao pai, e eu vou<br />
perder tudo: emprego, família, posição, os meus amigos, a minha auto-estima. Não iria<br />
suportar a humilhação.<br />
- O caso é secreto. Porque é que a sua mulher tem de saber?<br />
- Porque a minha amante escreveu-lhe <strong>uma</strong> carta a contar-lhe tudo. Eu acabei com ela,<br />
está a ver, e ela ficou furiosa. A carta é a sua vingança.<br />
- Mas o caso está terminado. Você acabou com ele. Porque não o admite simplesmente e<br />
pede desculpa à sua mulher antes de ela receber a carta? Com o tempo, ela iria perdoarlhe.<br />
Talvez não contasse ao pai.<br />
- Não há hipótese. Ela nunca me amou a mim tanto como o ama a ele. Na verdade, não me<br />
parece que me amasse de todo.<br />
- Então ela vai ficar contente se você se matar?<br />
- Vai haver <strong>uma</strong> celebração. Ela vai convidar o pai e os amigos. A sua amargura era tão<br />
profunda como a do presente.<br />
- O sonho parece-lhe familiar? - perguntei.<br />
A pergunta deixou-o espantado. Pensou por um bocado e depois disse com hesitação:<br />
- Está a referir-se a um sonho recorrente? Não, não me parece. Só que... - Ele abanou a<br />
cabeça.<br />
- Não.<br />
- Você matou-se mesmo?<br />
Ele franziu o sobrolho. Houve outro silêncio. Por fim:<br />
- Não sei. Não consigo ver. Oh, meu Deus! Não sei o que fazer.<br />
Ele lembrou-se do seu sonho futuro na sua vida presente quando regressou a ela.<br />
- Isto quer dizer que eu vou ter os sentimentos antigos, a humilhação e o desespero<br />
repetidamente?<br />
- É o que lhe parece?<br />
- Parece que vou querer matar-me para sempre, que, independentemente da minha vida,<br />
esse é o padrão que vou seguir.<br />
- Até estar preparado para aprender - concordei. - É como <strong>uma</strong> tragédia grega. Se se matar<br />
agora, está destinado a enfrentar a situação repetidamente. O que não conseguiu perceber<br />
foi que o homem no seu sonho e o homem que viu na sua progressão - o homem com a<br />
arma apontada à cabeça - não era realmente você, mas apenas <strong>uma</strong> parte de si, a parte<br />
que se odeia, a parte suicida.<br />
Ele estremeceu como se estivesse subitamente gelado.<br />
- Se eu seguisse a outra estrada - disse ele -, como é que seria?<br />
- Ah, boa pergunta. É aí que vai ser capaz de aprender.<br />
Ele demorou mais tempo do que o habitual a ser hipnotizado, talvez porque estivesse<br />
receoso de que também o segundo caminho levasse ao desespero. Mas afinal deu por si no<br />
futuro próximo, tendo escolhido não se matar.<br />
- Eu entrei mesmo em bancarrota - relatou ele, - mas ganhei o processo. Na verdade, não<br />
havia fundamentos para ele.<br />
- E a Constance?<br />
- Deu-me apoio total. Tal como os miúdos. Tal como os meus amigos. Acho que sentiram<br />
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