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Carlos Reichenbach: o cinema como razão de viver - Universia Brasil

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Em Extremos do Prazer, eu cito textualmente o<br />

Tratado do Desespero, <strong>de</strong> Kierkegaard. Na cena<br />

final, aparece o ca<strong>de</strong>rno em que o protagonista<br />

anotava suas observações em vida. Nesta folha,<br />

o <strong>de</strong>talhe do sangue pingando em cima da<br />

frase: No <strong>de</strong>sespero, o morrer continuamente<br />

se transforma em <strong>viver</strong>. Quem <strong>de</strong>sespera, não<br />

po<strong>de</strong> morrer. Kierkegaard afirmava que todo ser<br />

humano <strong>de</strong>veria vivenciar os estágios estético,<br />

ético e religioso. Meu Fausto estaria, ainda, no<br />

estágio estético.<br />

Em relação ao filme lidar com a minha questão<br />

paterna, uma coisa é certa: se tivesse que culpar<br />

meu pai por alguma coisa, seria pelo fato <strong>de</strong> ele<br />

ter morrido muito cedo. Perdi meu pai na véspera<br />

<strong>de</strong> fazer 14 anos. Foi traumático <strong>de</strong>mais. Era uma<br />

pessoa muito especial para mim. Um homem<br />

obcecado por enciclopédias. Por causa <strong>de</strong>le,<br />

tenho paixão por livros. A maior herança que<br />

ele me <strong>de</strong>ixou foi a sua biblioteca. Eu leio compulsivamente<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os oito anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Aos<br />

nove já lia Somerset Maughan e John Steinbeck.<br />

Isso acontecia mais pela facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso. Os<br />

livros estavam lá, nas estantes abarrotadas. Era só<br />

pegar e ler. De certa forma, fazer esse filme foi<br />

uma maneira <strong>de</strong> exorcizar essas influências, <strong>de</strong><br />

trabalhar antropofagicamente minha gulodice<br />

literária. Não estou querendo intelectualizar o<br />

filme, muito ao contrário; ele trafega conscientemente<br />

entre a erudição e a Boca-do-Lixo, a<br />

inteligência e a malandragem, a inocência e o<br />

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