Volume 1 - Número 8 - EDUEP - Uepb
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SocioPoética - <strong>Volume</strong> 1 | <strong>Número</strong> 8<br />
julho a dezembro de 2011<br />
Introdução<br />
Este artigo contempla apenas um recorte da análise da problemática das<br />
Confissões, sobre o discurso interior com uma abordagem no quadro da teoria narrativa<br />
do conceito de identidade narrativa 2 que apresenta uma relação intrínseca no<br />
campo da ética entre a teoria e a prática.<br />
A obra Confissões de Santo Agostinho se mostra como fonte rica de entrelaçamentos<br />
para a análise desta proposta. A partir desta perspectiva entrarão em cena<br />
a Filosofia Medieval em diálogo com a ‘hermenêutica do si’ 3 de Paul Ricoeur, elaborada<br />
de maneira mais sistemática no livro Soi-même comme un autre, quando<br />
instaura a questão da identidade (Soi-même) e de uma invenção da identidade através<br />
das figuras da alteridade: (comme un autre), que privilegia tanto a dimensão<br />
metafórica como também ética dessa invenção.<br />
A “hermenêutica do si” desenvolvida no conceito de identidade narrativa é então<br />
considerada a chave de leitura do livro X das Confissões. Isto, porque Agostinho ao<br />
se apropriar da Escritura para tecer as Confissões, abre uma nova dimensão sobre a<br />
compreensão ética e dialética do si mesmo como um outro, quando quer se revelar<br />
e dizer quem é, no confronto com os vários ‘eus’ 4 .<br />
A proposta é interpretar a correlação de conhecimentos que são assimétricos,<br />
embora se conectem e se correspondam. O conhecimento de si e o conhecimento<br />
de Deus são necessários e indispensáveis para o conhecimento de um e de outro.<br />
Os conhecimentos são diferentes e desiguais, considerando as naturezas humana<br />
e divina. Entretanto, um conhecimento não anula o outro, ou seja, é por existir a<br />
dessemelhança que se pode desejar o semelhante com Deus. É a própria imanência<br />
que o confronta no desejo pela transcendência e o leva a entender sua alteridade<br />
constitutiva na relação “Eu – Tu”.<br />
2 A noção de identidade narrativa abordada por Paul Ricoeur em O si mesmo como um outro, é fruto do<br />
desenvolvimento de uma hipótese lançada ao final de Tempo e Narrativa III, para responder a hipótese<br />
se haveria uma estrutura da experiência capaz de integrar as duas classes narrativas, histórica e de ficção.<br />
Ricoeur entrecruza essas duas narrativas não mais com a perspectiva de suas relações com o tempo humano,<br />
como havia feito em Tempo e Narrativa, mas como um aparato para contribuir com a constituição do si,<br />
em que irá propor a distinção e dialética entre a mesmidade e a ipseidade. RICOEUR, Paul. O si mesmo<br />
como um outro. Tradução de Lucy Moreira Cesar. Campinas: Papirus, 1991, p.137-166.<br />
3 A ‘hermenêutica do si’encadeia três mediações: a articulação entre a reflexão e a análise, que impõe a dialética<br />
entre o si-mesmo e o si-próprio e ganha dimensão na dialética entre o si-mesmo e a alteridade.<br />
4 Conf. X, v, 7.