16.04.2013 Views

Volume 1 - Número 8 - EDUEP - Uepb

Volume 1 - Número 8 - EDUEP - Uepb

Volume 1 - Número 8 - EDUEP - Uepb

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

154<br />

SocioPoética - <strong>Volume</strong> 1 | <strong>Número</strong> 8<br />

julho a dezembro de 2011<br />

Introdução<br />

Este artigo contempla apenas um recorte da análise da problemática das<br />

Confissões, sobre o discurso interior com uma abordagem no quadro da teoria narrativa<br />

do conceito de identidade narrativa 2 que apresenta uma relação intrínseca no<br />

campo da ética entre a teoria e a prática.<br />

A obra Confissões de Santo Agostinho se mostra como fonte rica de entrelaçamentos<br />

para a análise desta proposta. A partir desta perspectiva entrarão em cena<br />

a Filosofia Medieval em diálogo com a ‘hermenêutica do si’ 3 de Paul Ricoeur, elaborada<br />

de maneira mais sistemática no livro Soi-même comme un autre, quando<br />

instaura a questão da identidade (Soi-même) e de uma invenção da identidade através<br />

das figuras da alteridade: (comme un autre), que privilegia tanto a dimensão<br />

metafórica como também ética dessa invenção.<br />

A “hermenêutica do si” desenvolvida no conceito de identidade narrativa é então<br />

considerada a chave de leitura do livro X das Confissões. Isto, porque Agostinho ao<br />

se apropriar da Escritura para tecer as Confissões, abre uma nova dimensão sobre a<br />

compreensão ética e dialética do si mesmo como um outro, quando quer se revelar<br />

e dizer quem é, no confronto com os vários ‘eus’ 4 .<br />

A proposta é interpretar a correlação de conhecimentos que são assimétricos,<br />

embora se conectem e se correspondam. O conhecimento de si e o conhecimento<br />

de Deus são necessários e indispensáveis para o conhecimento de um e de outro.<br />

Os conhecimentos são diferentes e desiguais, considerando as naturezas humana<br />

e divina. Entretanto, um conhecimento não anula o outro, ou seja, é por existir a<br />

dessemelhança que se pode desejar o semelhante com Deus. É a própria imanência<br />

que o confronta no desejo pela transcendência e o leva a entender sua alteridade<br />

constitutiva na relação “Eu – Tu”.<br />

2 A noção de identidade narrativa abordada por Paul Ricoeur em O si mesmo como um outro, é fruto do<br />

desenvolvimento de uma hipótese lançada ao final de Tempo e Narrativa III, para responder a hipótese<br />

se haveria uma estrutura da experiência capaz de integrar as duas classes narrativas, histórica e de ficção.<br />

Ricoeur entrecruza essas duas narrativas não mais com a perspectiva de suas relações com o tempo humano,<br />

como havia feito em Tempo e Narrativa, mas como um aparato para contribuir com a constituição do si,<br />

em que irá propor a distinção e dialética entre a mesmidade e a ipseidade. RICOEUR, Paul. O si mesmo<br />

como um outro. Tradução de Lucy Moreira Cesar. Campinas: Papirus, 1991, p.137-166.<br />

3 A ‘hermenêutica do si’encadeia três mediações: a articulação entre a reflexão e a análise, que impõe a dialética<br />

entre o si-mesmo e o si-próprio e ganha dimensão na dialética entre o si-mesmo e a alteridade.<br />

4 Conf. X, v, 7.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!