Volume 1 - Número 8 - EDUEP - Uepb
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A procura do amor em diálogo com o saber de si mesmo<br />
SocioPoética - <strong>Volume</strong> 1 | <strong>Número</strong> 8<br />
julho a dezembro de 2011<br />
A narrativa segue a ordem do discurso reflexivo de movimento do exterior para o<br />
interior (ab exterioribus → ad interiorira) e do inferior para o superior (ab inferioribus<br />
→ ad superiora) que vai se intensificando a cada parágrafo, em que Agostinho primeiro<br />
afirma a consciência de si em relação a si mesmo, 50 de desagrado e vergonha<br />
de si mesmo, e coloca em dúvida o próprio conhecimento a respeito de si mesmo,<br />
isto é, se poderia haver algo oculto a Deus, e coloca a si mesmo em confronto e<br />
abertura diante de Deus. E o que o move ao confronto é algo que está entre ele e<br />
Deus: o amor tui, o amor de Deus. 51<br />
Na sequência, afirma o amor que tem a Deus, mas que tem como causa e precedência<br />
o amor de Deus, para depois entrar no campo da memória, onde a memória<br />
ganha amplitude de conteúdos quando se desvela a si mesma.<br />
“Amo-te, Senhor, com uma consciência não vacilante, mas firme. Feriste-me o<br />
meu coração com a tua palavra, e eu amei-te” (Confissões X, vi, 8). 52<br />
Assim, suas primeiras descobertas sobre a verdade são de que há dois níveis de<br />
consciência: o abismo da consciência e a consciência do desejo do amor por Deus,<br />
por causa do amor Dei, de ser amado por Deus, o amor tui. A consciência que tem<br />
do amor de Deus o leva à consciência de si.“... e és amado, e és desejado, de tal<br />
modo que eu começo a ter vergonha de mim, e me desprezo, e te escolho a ti, e não<br />
agrado, nem a ti nem a mim, senão por ti” (Confissões X, ii, 2).<br />
Reconhece, por meio da luz divina, o brilho intenso do amor de Deus, e se<br />
reconhece na presença de Deus de tudo o que possa ser, o que inclui a sua própria<br />
vergonha e nudez diante de Deus. O “eu” assume a própria imperfeição diante do<br />
amor de Deus e a culpa de seus próprios erros 53 na confissão e, ao mesmo tempo,<br />
reconhece a bondade de Deus e o louva. “Eu estou patente diante de ti, Senhor, em<br />
ti me confesso” (Confissões X, ii, 2).<br />
Como procura pelo conhecimento de si e de Deus, Agostinho almeja o Volo<br />
eam facere in corde meo coram te in confessione, que associa dois movimentos imprescindíveis<br />
de ação: primeiro, o movimento de reconhecimento da memória como<br />
exercício prático que o conduza à relação com a virtude; e segundo, o movimento<br />
de ascese de realização da virtude, na prática da ação.<br />
50 O termo consciência no conjunto da obra, em que é mencionado, aparece como uma espécie de árbitro,<br />
juiz de si mesmo, de uma exigência moral que aponta para o interior (lei, Deus, retidão, juiz) de uma reflexão<br />
que traz a luz sobre si mesmo nas passagens: Confissões I, 18, 29; II, 5, 11; IV, 9, 14; V, 6, 11; VIII, 7,<br />
18; X, ii, 2; 3,4; 6, 8; X, vi, 9; 30, 41; XII, 18, 27.<br />
51 Confissões X, ii, 2.<br />
52 Non dubia, sed certa conscientia, Domine, amo te. Percussisti cor meum verbo tuo, et amavi te (Confissões X,<br />
vi, 8).<br />
53 Confissões X, ii, 2.<br />
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