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Volume 1 - Número 8 - EDUEP - Uepb

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SocioPoética - <strong>Volume</strong> 1 | <strong>Número</strong> 8<br />

julho a dezembro de 2011<br />

Em busca da identidade mesmidade<br />

Agostinho estabelece que o próprio espírito conhece a si próprio. 36 Entretanto,<br />

é o próprio espírito que gera a dúvida, 37 o desconhecimento sobre sua natureza.<br />

É a própria dúvida que confronta a sua nudez e o leva à procura do caos, das suas<br />

profundezas, abyssus humanae, do abismo humano, porque esse é o princípio de sua<br />

existência, do conhecimento de si, do desejo de querer conhecer sua ignorância. Tal<br />

afirmação se apresenta em resposta àqueles que querem conhecer, qui est, quem é.<br />

Esse diálogo não apenas abarca os de fora, que o questionam, mas antes é dirigido a<br />

si mesmo e a Deus, com o desejo de ir em direção ao mais oculto e ignorado de sua<br />

consciência; trata-se de um longo exercício da alma em busca da verdade. 38<br />

O termo consciência inicia um papel de importante análise no segundo parágrafo<br />

do livro X, para introdução do conhecimento. Agostinho apresenta Deus<br />

como aquele que conhece a nudez e o abismo da consciência humana. 39 E seus questionamentos<br />

se dirigem ao que está em oculto, como se ele não quisesse (nollem), 40<br />

ou estivesse resistindo em confessar, e chegasse à seguinte conclusão: o oculto estaria<br />

posto a si mesmo e não a Deus, pois ele seria o seu próprio obstáculo. Por<br />

definição, aponta a Deus como onisciente e onipresente. Agostinho apresenta um<br />

primeiro problema: o desconhecimento e o desagrado de si mesmo que está no<br />

próprio espírito. Em contraposição, fala daquilo que o agrada, atrai, deseja e de que<br />

sente prazer, e coloca o amor de Deus, amor tui, em evidência. 41 O amor deve ser a<br />

mediação entre o que ama e aquilo que ama. É essa via que deve conduzi-lo à união<br />

do conhecimento entre Deus e Agostinho, a caritas.<br />

Assim, Agostinho mergulha no mais profundo de si, em que se faz necessário<br />

ter a consciência daquilo que conhece e até mesmo do que desconhece a respeito<br />

de si mesmo e de Deus, o que impõe uma análise reflexiva acerca de si mesmo para<br />

continuar seu percurso em busca do conhecimento.<br />

O livro X ainda apresenta como diferencial a via de conhecimento do médico<br />

interior, que agora não é mais a figura do mestre interior, que deverá conduzi-lo<br />

36 Confissões X, III, 3.<br />

37 Agostinho, anos mais tarde, em A Cidade de Deus XI, xxvii, retoma esse princípio em resposta ao argumento<br />

dos acadêmicos: “Pois, se me engano, existo. Quem não existe não pode enganar-se; por isso, se me<br />

engano, existo. Logo, se existo, se me engano, crendo que existo, quando é certo que existo, se me engano?<br />

Embora me engane sou eu que me engano e, portanto, no que conheço existo, não me engano. Como<br />

conheço que existo, assim conheço que conheço”.<br />

38 Confissões X, II, 2.<br />

39 Confissões X, i, 1.<br />

40 Nollem, não querer, resistir, vacilante, afastamento.<br />

41 Et tibi quidem, Domine, cuius oculis nuda est abyssus humanae conscientiae, quid occultum esset in me,<br />

etiamsi nollem confiteri tibi ? Te enim mihi absconderem, non me tibi. Nunc autem quod gemitus meus<br />

testis est displicere me mihi, tu refulges et places et amaris et desideraris, ut erubescam de me et abiciam me<br />

atque eligam te et nec tibi nec mihi placeam nisi de te (Confissões X, ii, 2).

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