Volume 1 - Número 8 - EDUEP - Uepb
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SocioPoética - <strong>Volume</strong> 1 | <strong>Número</strong> 8<br />
julho a dezembro de 2011<br />
dessa relação para as realizações e desenvolvimento da humanidade. A cidade surge<br />
para o autor como uma das grandes realizações humanas, uma forma distinta de<br />
civilização que mantém uma relação de tensão e contraste com a paisagem do<br />
campo desde a Antiguidade Clássica. O autor ressalta que a vida nesses dois espaços<br />
distintos – o campo e a cidade – move-se através do tempo, por meio de uma rede<br />
de sentimentos, ideias, relacionamentos e decisões, conforme pode ser percebido<br />
por meio da literatura no decorrer da história.<br />
Um dos pontos de partida do autor é o mundo helenístico, no século III a.C.,<br />
onde o bucólico se configura como forma literária a partir dos poemas de Teócrito.<br />
Essa forma literária encontra, dois séculos depois, na poesia de Virgílio, uma forma<br />
de bucolismo mais elaborada, mais idealizada, ressaltando, inclusive, o impacto das<br />
estações na vida camponesa. Prosseguindo com seu retrospecto histórico, Williams<br />
ressalta a profusão de cidades e mosteiros no fim da Idade Média, que acabaram<br />
originando conceitos e relações socioeconômicas tão novas quanto complexas. O<br />
crescimento do comércio de lã fez aumentar a necessidade de mais pastos, o que<br />
ocasionou tanto a destruição de muitas aldeias aráveis quanto o rápido surgimento<br />
de uma nova categoria de proprietário rural capitalista. Longe de ser uma história<br />
do declínio medieval, como ressalta Williams, essa é na verdade a história de um<br />
crescimento vigoroso de um novo sistema social, onde a sacralidade da propriedade<br />
privada tem que coexistir com violentas mudanças que afetam todo o panorama<br />
econômico-cultural da Inglaterra no período posterior à Restauração, onde:<br />
direta ou indiretamente, a maioria das cidades aparentemente se desenvolveu<br />
como um aspecto da ordem agrícola: num nível mais simples,<br />
como mercados; num nível mais elevado, refletindo a verdadeira ordem<br />
social, como centros de finanças, administração e produção secundária.<br />
Surgiam então novas formas de interação e tensão as mais variadas, e<br />
algumas cidades adquiriram certo grau de autonomia (WILLIAMS,<br />
2011, p. 84).<br />
Esse período de transição em questão – iniciado com a Guerra Civil e precedido<br />
pela ditadura republicana de Cromwell, a Restauração e o acordo constitucional de<br />
1688 – será marcado por alterações fundamentais no âmbito social da Inglaterra.<br />
Williams sinaliza que, naquilo que diz respeito à ideologia, a própria literatura passa<br />
a apresentar transformações. Os poemas sobre o refúgio no campo, por exemplo,<br />
apresentarão uma clara transição do ideal da contemplação para outro ideal, mais<br />
pertinente com a nova mentalidade: o ideal da simples virtude produtiva.<br />
Entretanto, é no século seguinte – XVIII – que o autor aponta todas as matizes<br />
dessa relação de contraste e interação entre campo e cidade. Esse contraste social,<br />
dinâmico e ativo vê surgir na literatura a conciliação benévola de Fielding e os<br />
temores de Richardson, e, sobretudo, uma nova versão social, nova e séria da paz<br />
e virtude perdidas da vida rural. Williams ressalta que a poesia do período oscila,<br />
ora apresentando reflexões meditativas, ora horror e retraimento, como sinaliza o