Volume 1 - Número 8 - EDUEP - Uepb
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SocioPoética - <strong>Volume</strong> 1 | <strong>Número</strong> 8<br />
julho a dezembro de 2011<br />
outras coisas a que estão habituados; nem poderiam habituar-se a coisa<br />
alguma senão por meio da memória. Irei, portanto, além da memória<br />
para alcançar aquele que me distinguiu dos quadrúpedes e me fez mais<br />
sábio que as aves do céu; irei além da memória para te encontrar, ó<br />
verdadeiro bem, ó suavidade segura, para te encontrar? Se te encontrar<br />
fora da minha memória, estou esquecido de ti. E, se não estou lembrado<br />
de ti, como é que te encontrarei? (Confissões X, xvii, 26).<br />
Quem, senão o próprio “eu” pode se interrogar pelo conflito no próprio espírito,<br />
da própria vontade. É esse “eu” inquieto que, em primeiro plano, sai em busca<br />
de sua origem e se interroga pelo fruto de suas confissões.<br />
O que tem em suas mãos, à sua disposição é: memória 6 (ad manum posita in ipsa<br />
memória), “a mão do coração” 7 (ab manu cordis), o pensamento (cogitare proprie) e<br />
o querer 8 (quod volo).<br />
Desse modo, o “eu” sai em busca da constituição do si por meio da consciência<br />
que tem da presença divina, o amor. 9 O amor é o primeiro dado que revela sobre<br />
si mesmo a relação com Deus. Apresenta o próprio espírito 10 e a consciência de si 11<br />
para estruturar o pensamento com a finalidade de alcançar a luz, que tem como<br />
lugar da prática o coração, que impõe, como necessidade, a prática da verdade, que<br />
está associada ao amor e ao querer: ecce enim veritatem dilexisti. 12<br />
A dialética entre a mesmidade e a ipseidade – O desejo de conhecer a Deus<br />
tal como se é conhecido<br />
A narrativa abre o livro X com a prece que tem como questão central a busca<br />
pelo conhecimento de Deus que expressa o desejo de querer conhecer a Deus tal<br />
como se é conhecido por ele.<br />
6 Confissões X, xi, 18.<br />
7 Confissões X, viii, 12.<br />
8 Confissões X, viii, 12.<br />
9 Confissões X, ii, 2.<br />
10 Confissões X, III, 3.<br />
11 Confissões X, III, 4; VI, 8.<br />
12 Confissões X, I, I.<br />
Que eu te conheça, ó conhecedor de mim, que eu te conheça, tal como<br />
sou conhecido por ti. Ó virtude da minha alma, entra nela e molda-a a<br />
ti, para que a tenhas e possuas sem mancha nem ruga. Esta é a minha<br />
esperança; por isso falo e nesta esperança me alegro, quando experimento<br />
uma sã alegria. Pois as restantes coisas desta vida tanto menos<br />
se devem chorar quanto mais por causa delas se chora, e tanto mais se<br />
devem chorar quanto menos por causa delas se chora. Mas tu amaste a<br />
verdade, porque aquele que a põe em prática alcança a luz. Também a<br />
quero pôr em prática no meu coração: diante de ti, na minha confissão,<br />
diante de muitas testemunhas, nos meus escritos (Confissões X, i,1).