Volume 1 - Número 8 - EDUEP - Uepb
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APRESEntAçãO<br />
SocioPoética - <strong>Volume</strong> 1 | <strong>Número</strong> 8<br />
julho a dezembro de 2011<br />
Os estudos sobre literatura e sagrado têm ocupado um espaço importante nos estudos<br />
literários e de ciências da religião no contexto acadêmico brasileiro. Nas últimas<br />
duas décadas grupos de pesquisa, teses, dissertações, além de ensaios, livros, artigos passaram<br />
a fazer parte de políticas editoriais e do cenário acadêmico nacional. Talvez isso<br />
expresse a superação de uma fase na qual a religião deveria ser tratada exclusivamente<br />
em instituições religiosas e a literatura deveria ser estudada sem que fosse considerada a<br />
religião como um dos temas fundamentais que a constituem. Nem a religião pertence a<br />
uma instituição, nem a literatura se estabelece somente por meio de técnicas narrativas<br />
e domínios de gêneros. A Bíblia, por exemplo, não é um livro exclusivo da igreja, e a<br />
literatura não é obra somente dos críticos literários e teóricos. A escrita acontece e se<br />
desenvolve em meio ao dilema humano, em meio a escolhas e temas. A religião (ainda)<br />
é um dos temas fundamentais da condição humana, e os autores e autoras da literatura<br />
não se eximiram de dela falar, contra ela agir, em favor dela escrever.<br />
Não há, portanto, mais sentido de colocar muros onde a própria literatura em sua<br />
longa jornada não os erigiu. Tampouco tem sentido pensar a religião, também em sua<br />
longa jornada histórica, somente como arranjos dogmáticos institucionais. A literatura<br />
é escrita a partir da vida. A religião é uma das experiências mais radicais que as culturas<br />
humanas cultivaram em suas variadas formas. Talvez não seja equivocado dizer com um<br />
dos grandes teólogos e filósofos da cultura, Paul Tillich, que a religião é a substância da<br />
cultura, a cultura é a forma da religião. Sem cair em discussões sobre substâncias e essências,<br />
pois o que importa é a cultura em suas dinâmicas e em seus funcionamentos e (a)<br />
fazeres, não se pode negar que a religião ocupou, para o bem e para o mal, papel decisivo<br />
na urdidura das matrizes culturais. A literatura conhece e sabe disso, daí a relação intrínseca<br />
entre muitas das narrativas literárias e as tradições religiosas nas civilizações. Este é<br />
um aspecto, mas ainda não dá conta de outras características não menos importantes. As<br />
ditas tradições religiosas não são proto-formas literárias somente. Muitas delas nascem<br />
em forma literária. Não usam simplesmente a poesia ou outras linguagens literárias para<br />
se expressar, antes se constituem literariamente, impossibilitando, assim, o estabelecimento<br />
de fronteiras muito rígidas entre religião e literatura. Por vezes, a mensagem está<br />
na própria poesia e a profecia se encontra em parábolas.<br />
Os artigos que compõem o número 8 da revista Sociopóetica, do Programa de Pósgraduação<br />
em Literatura e Interculturalidade da Universidade Estadual da Paraíba<br />
(UEPB), reúne resultados de pesquisas em diferentes contextos dos estudos literários e<br />
de ciências da religião do Brasil, do Chile, de Porto Rico e da Alemanha. A variedade de<br />
contexto e de programas, além dos idiomas, confirma o alcance do interesse em torno<br />
da relação entre literatura e sagrado, literatura e religião. Como é o primeiro número<br />
dedicado a essa interface, o que temos com a presente publicação pode ser considerado<br />
uma amostragem do quanto está sendo pesquisado e produzido no Brasil e em outros<br />
países sobre o tema escolhido.<br />
Antonio Carlos de Melo Magalhães<br />
Editor Responsável<br />
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