16.04.2013 Views

Volume 1 - Número 8 - EDUEP - Uepb

Volume 1 - Número 8 - EDUEP - Uepb

Volume 1 - Número 8 - EDUEP - Uepb

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

164<br />

SocioPoética - <strong>Volume</strong> 1 | <strong>Número</strong> 8<br />

julho a dezembro de 2011<br />

De acordo com a autora Maria Manuela Brito Martins, 29 a noção de compreensão<br />

em Agostinho assume uma linguagem que deve ser colocada no campo semântico<br />

contextual, no qual Agostinho articula o texto bíblico e o pensamento clássico. A<br />

noção não se trata apenas de uma interpretação de texto bíblico, ligada à exegese de<br />

Efésios 3,18 (in caritate radicati atque fundati, ut possitis comprehendere cum omnibus<br />

sanctis quae sit longitudo, latitudo, altitudo et profundo), em que a passagem está<br />

estreitamente radicalizada no amor, mas também do pensamento clássico.<br />

Martins demonstra o significado da palavra na cultura clássica dada por Cícero,<br />

em que existe uma relação estreita entre aquilo que nós sabemos e aquilo que está<br />

colocado em nossas mãos. Desse modo, poderíamos dizer que o sentido da reflexão<br />

ciceroniana é ver a correlação entre as mãos e a ação de compreender, que o saber<br />

implica que existe alguma coisa que está colocada em nossas mãos, que se encontra<br />

à nossa disposição, dada em nossa posse.<br />

Depois da divindade, considerando que quem quiser ser um poeta de<br />

verdade terá de compor mitos e não palavras, por saber-me incapaz<br />

de criar no domínio da mitologia, recorri às fabulas de Esopo que eu<br />

sabia de cor e tinha mais à mão, havendo versificado as que me ocorreram<br />

primeiro. (...) Sobre isso só posso falar de outiva; porém, nada me<br />

impede de comunicar-vos o que sei. 30<br />

Martins define que o conhecimento não é algo fabricado pelos mitos, mas sobretudo<br />

aquilo que está colocado em nossas mãos e que faz parte de nossa experiência,<br />

nosso aprendizado, algo conhecido. Para Martins, a noção de Agostinho também<br />

reaproxima a compreensão de Cícero quando associa o ato de compreender àquilo<br />

que está colocado em nossas mãos. A expressão ad manum posita aparece unicamente<br />

nas Confissões, no livro X, em que Agostinho analisa a função e o papel que<br />

joga a memória no conhecimento intelectual.<br />

E, conforme Heidegger 31 ad manum positum est (é posto ao alcance da mão), o<br />

que está disponível, já ordenado, isso é o consciente, o aprendido.<br />

Mas, porém, quando ouço dizer que há três espécies de questões: se<br />

uma coisa é; o que é; e como é (...) Por conseguinte descobrimos que<br />

aprender essas tais coisas, cujas imagens não absorvemos pelos sentidos,<br />

mas vemos, tal como são, dentro de nós mesmos, em si mesmas, sem<br />

imagens, não é outra coisa senão como que recolher, pensando, aquilo<br />

que a memória, indistinta e desordenadamente, continha, e fazer com<br />

que, reparando nelas, as coisas, que estão como que colocadas à disposição<br />

(a mão) na própria memória, onde antes, dispersas e esquecidas,<br />

29 MARTINS, M. Brito. Herméneutique et existence. Augustiniana, 1999, p. 7-9.<br />

30 PLATÃO, 2002, p. 253-254.<br />

31 HEIDEGGER, Martin. Estudios sobre mística medieval. Agustín y el neoplatonismo. Trad. Jacobo Muñoz.<br />

México: Fondo de Cultura Económica, 1997, p. 37.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!