Volume 1 - Número 8 - EDUEP - Uepb
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SocioPoética - <strong>Volume</strong> 1 | <strong>Número</strong> 8<br />
julho a dezembro de 2011<br />
De acordo com a autora Maria Manuela Brito Martins, 29 a noção de compreensão<br />
em Agostinho assume uma linguagem que deve ser colocada no campo semântico<br />
contextual, no qual Agostinho articula o texto bíblico e o pensamento clássico. A<br />
noção não se trata apenas de uma interpretação de texto bíblico, ligada à exegese de<br />
Efésios 3,18 (in caritate radicati atque fundati, ut possitis comprehendere cum omnibus<br />
sanctis quae sit longitudo, latitudo, altitudo et profundo), em que a passagem está<br />
estreitamente radicalizada no amor, mas também do pensamento clássico.<br />
Martins demonstra o significado da palavra na cultura clássica dada por Cícero,<br />
em que existe uma relação estreita entre aquilo que nós sabemos e aquilo que está<br />
colocado em nossas mãos. Desse modo, poderíamos dizer que o sentido da reflexão<br />
ciceroniana é ver a correlação entre as mãos e a ação de compreender, que o saber<br />
implica que existe alguma coisa que está colocada em nossas mãos, que se encontra<br />
à nossa disposição, dada em nossa posse.<br />
Depois da divindade, considerando que quem quiser ser um poeta de<br />
verdade terá de compor mitos e não palavras, por saber-me incapaz<br />
de criar no domínio da mitologia, recorri às fabulas de Esopo que eu<br />
sabia de cor e tinha mais à mão, havendo versificado as que me ocorreram<br />
primeiro. (...) Sobre isso só posso falar de outiva; porém, nada me<br />
impede de comunicar-vos o que sei. 30<br />
Martins define que o conhecimento não é algo fabricado pelos mitos, mas sobretudo<br />
aquilo que está colocado em nossas mãos e que faz parte de nossa experiência,<br />
nosso aprendizado, algo conhecido. Para Martins, a noção de Agostinho também<br />
reaproxima a compreensão de Cícero quando associa o ato de compreender àquilo<br />
que está colocado em nossas mãos. A expressão ad manum posita aparece unicamente<br />
nas Confissões, no livro X, em que Agostinho analisa a função e o papel que<br />
joga a memória no conhecimento intelectual.<br />
E, conforme Heidegger 31 ad manum positum est (é posto ao alcance da mão), o<br />
que está disponível, já ordenado, isso é o consciente, o aprendido.<br />
Mas, porém, quando ouço dizer que há três espécies de questões: se<br />
uma coisa é; o que é; e como é (...) Por conseguinte descobrimos que<br />
aprender essas tais coisas, cujas imagens não absorvemos pelos sentidos,<br />
mas vemos, tal como são, dentro de nós mesmos, em si mesmas, sem<br />
imagens, não é outra coisa senão como que recolher, pensando, aquilo<br />
que a memória, indistinta e desordenadamente, continha, e fazer com<br />
que, reparando nelas, as coisas, que estão como que colocadas à disposição<br />
(a mão) na própria memória, onde antes, dispersas e esquecidas,<br />
29 MARTINS, M. Brito. Herméneutique et existence. Augustiniana, 1999, p. 7-9.<br />
30 PLATÃO, 2002, p. 253-254.<br />
31 HEIDEGGER, Martin. Estudios sobre mística medieval. Agustín y el neoplatonismo. Trad. Jacobo Muñoz.<br />
México: Fondo de Cultura Económica, 1997, p. 37.