Volume 1 - Número 8 - EDUEP - Uepb
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SocioPoética - <strong>Volume</strong> 1 | <strong>Número</strong> 8<br />
julho a dezembro de 2011<br />
existem na literatura e como! Ângela Lago publica seu livro De Morte! no Brasil em<br />
1992, portanto, exatamente treze anos antes do livro de Saramago. E aqui a Morte<br />
também tem sua intermitência, embora forçada. Nas duas obras Átropos guarda sua<br />
enferrujada tesoura por um tempo e tudo sai da ordem.! Instaura-se o caos quando<br />
a Morte para de matar.<br />
Na obra de Saramago a Morte interrompe seu trabalho da primeira vez, na<br />
entrada de um ano novo, por livre e própria vontade para provar para os humanos<br />
como seria horrível viver eternamente; na segunda vez porque se apaixona pelo<br />
violoncelista, enquanto na obra de Lago a Morte interrompe seu trabalho por que<br />
é enganada por um velhinho muito astuto. O escritor português dá um tratamento<br />
lírico à morte, uma vez que a Morte se apaixona pelo violoncelista, enquanto a<br />
escritora mineira dá um tratamento humorístico à morte. Na realidade são poucos<br />
os grandes temas que importam à literatura, como bem lembrou Borges 4 e a morte<br />
está entre eles. Mas deixemos a comparação das duas obras para outro artigo...<br />
Cabe antes esclarecer que Ângela Lago costuma reescrever estórias antigas, cuja<br />
autoria se perde no tempo. De Morte é uma reescritura mais do que criativa de um<br />
conto também genial muito conhecido no folclore europeu (Portugal, Bretanha,<br />
França, França), como o nome de O Compadre da Morte5. No Brasil, o pesquisador<br />
Gustavo Barroso registrou uma variante no Ceará como o nome de A lenda da<br />
Morte6. A escritora também faz o mesmo com o conto Diabo Loiro7, que retoma o<br />
famoso conto de Maquiavel O arquidiabo Belfegor8. Tanto num conto como outro<br />
o Diabo se apaixona e se casa. No conto O Diabo Loiro o Dito cujo se casa com<br />
Maria Valsa e em Maquiavel o Arquiabo Belfegor se casa com uma megera chamada<br />
Onesta. Assunto para outro debate...<br />
4 “...a história de Tróia, a história de Ulisses, a história de Jesus – tem sido suficientes à Humanidade.<br />
As pessoas as têm contado e recontado muitas e muitas vezes; elas foram musicadas, foram pintadas.<br />
As pessoas as contaram inúmeras vezes, porém as histórias continuam ali, ilimitadas. Pode-se pensar em<br />
alguém, em mil ou dez mil anos, tornando a escrevê-las. Mas no caso dos evangelhos há uma diferença: a<br />
história de Cristo, a meu ver, não pode ser contada de modo melhor. Foi contada inúmeras vezes, porém,<br />
os poucos versos em que lemos, por exemplo, Cristo sendo tentado por Satã, são mais fortes que os quatro<br />
livros juntos do Paraíso reconquistado. (BORGES, 2007, p. 55, negrito nosso)<br />
5 Disponível em http://www.consciencia.org/contos-polulares-antigos-curtos, consultado em 03/09/2011,<br />
Neste conto um lavrador tem muitos filhos e ao nascer-lhe mais um, aceita que um estranho homem seja<br />
compadre e batize seu filho. O homem, na realidade é a Morte. Esta como não tem dinheiro para o afilhado<br />
e combina que fará seu compadre rico, através de um estratagema (quando ela aparecer do lado da<br />
cama: cura, nos pés da cama: morte). O compadre curandeiro torna-se rico. Certa feita, já rico, um homem<br />
poderoso o manda chamar prometendo-lhe castelos da Espanha se ficasse curado. O curandeiro almejando<br />
mais riqueza ainda e percebendo que a Morte estava nos pés da cama, resolve trapacear a Morte e mandou<br />
trocar a posição da cama, de modo que a nova posição significasse cura e vida. Ficou mais rico ainda. A<br />
Morte lhe avisa que virá buscá-lo em um ano. Para enganar a morte novamente, ele pinta os cabelos e se<br />
disfarça e vai beber com os amigos. A morte chega e ao não encontra o compadre e resolve levar aquele<br />
bêbado... o próprio compadre, agora sim enganado, em vez de enganador..<br />
6 Disponível em http://www.jangadabrasil.com.br/agosto60/im60080a.htm, consultada em 04/09/2011<br />
7 Disponível em file:///D:/Meus%20Documentos/Music/Diabo%20Literatura/o%20Diabo%20Loiro,%20<br />
Angela%20lago.htm<br />
8 Disponível em italiano em http://saltana.org/1/pros/311.html, consultado em 04/09/2011.