Volume 1 - Número 8 - EDUEP - Uepb
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SocioPoética - <strong>Volume</strong> 1 | <strong>Número</strong> 8<br />
julho a dezembro de 2011<br />
endereçado ao conjunto do público e pode circular muito além do círculo de leitores,<br />
os intertítulos são acessíveis apenas a estes, ou pelo menos ao público já restrito<br />
dos que folheiam o livro.<br />
A parábola selecionada para análise e discussão sobre o seu título encontra-se no<br />
macrotexto Bíblia, na subdivisão Novo Testamento e neste no Evangelho de Lucas,<br />
no capítulo 15:11-32, versão da BÍBLIA DE JERUSALÉM (1981).<br />
Segundo importantes estudiosos 11 da literatura bíblica, as parábolas de Jesus se<br />
constituem “algo de totalmente novo” (JEREMIAS, 1986, p.8), não havendo em<br />
toda literatura rabínica do tempo antes do I século referência a nenhuma parábola,<br />
exceto duas comparações de Hillel (pelo ano 20 a.C.).<br />
Um outro importante dado sobre as parábolas refere-se ao fato de que elas<br />
tiveram ainda no séc. I dois determinantes contextos de recepção: um no qual as<br />
parábolas foram primeiramente contadas por Jesus aos discípulos; e outro no qual<br />
as parábolas foram contadas para as comunidade cristãs nascentes (as igrejas). Neste<br />
ambiente de propagação dos evangelhos, o significativo processo de alegorização<br />
das parábolas certamente influenciou alguns títulos que nos chegaram até hoje.<br />
Embora não se encontrem nos manuscritos mais antigos do Antigo intertítulos nas<br />
secções internas dos livros, há evidências de que foi a partir do séc. I que teve início<br />
uma prática comum de nomear os subconjuntos textuais 12 (BARRERA, 1996,<br />
p.143), o que parece ter sido do mesmo modo em relação aos manuscritos do Novo<br />
Testamento 13 , no contexto de formação da igreja cristã. (BITTENCOURT, 1984,<br />
p.83) Na versão bíblica que selecionamos (BJ, 1981), o intertítulo que aparece no<br />
Evangelho de Lucas é o seguinte:<br />
O FILhO PERDIDO E O FILhO FIEL: PARÁBOLA DO FILhO PRÓDIGO<br />
– “Disse ainda (Yeshua): Um homem tinha dois filhos. O mais jovem<br />
disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai<br />
dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, ajuntando todos os seus<br />
haveres, o filho mais jovem partiu para uma região longínqua e ali<br />
11 Jeremias considera que é preciso levantar seriamente a hipótese de ter sido o modelo de parábola contada<br />
por Jesus um fator significativo (além de outros, como as fábulas gregas) na origem do gênero literário das<br />
parábolas rabínicas.<br />
12 Desde o início do séc. I é possível encontrar alguns títulos que serviam para identificar as leituras dos<br />
manuscritos do Antigo Testamento. O parece ter se tornado depois uma prática que tinha em vista a leitura<br />
sinagogal no contexto judaico é provável que tenha motivado prática análoga em relação aos manuscritos<br />
do Novo Testamento no contexto de formação da igreja cristã.<br />
13 Os mais antigos manuscritos possuíam poucos elementos auxiliares do leitor. O sistema de divisão em<br />
capítulos mais antigo é o que se encontra no Codex Vaticanus (Manuscrito ‘B’), considerado por críticos<br />
literários como melhor manuscrito grego do Novo Testamento. Nele há divisões de secções nos diversos<br />
livros, dentre os quais, 152 no Evangelho de Lucas.