Volume 1 - Número 8 - EDUEP - Uepb
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SocioPoética - <strong>Volume</strong> 1 | <strong>Número</strong> 8<br />
julho a dezembro de 2011<br />
Um regador, um ancinho deixado no campo, um cachorro deitado<br />
ao sol, um cemitério pobre, aleijado, uma pequena fazenda, tudo<br />
o que pode se tornar o destinatário da minha revelação. Cada um<br />
desses objetos, e em outros mil semelhantes sobre os quais os olhos<br />
percorrem com natural indiferença, pode me conduzir, de um modo<br />
que não sou capaz de fazer, uma singularidade sublime e comovedora,<br />
para expressá-la todas as palavras me parecem demasiado pobres<br />
(HOFFMANSTAL, 2007, p. 12) 16 .<br />
Tentando ainda explicar ao amigo Bacon o que estava acontecendo consigo,<br />
Chandos narra uma curiosa experiência que lhe ocorrera recentemente: após ter<br />
dado ordem aos empregados para que pusessem veneno para ratos nos sótãos de<br />
suas granjas, ele sai para cavalgar pelos campos. Inesperadamente, sem que nada o<br />
anunciasse, ele tem a visão dos ratos morrendo em agonia no escuro dos porões.<br />
Mas a visão que mais o impressiona é a de uma ratazana acompanhada de seus<br />
filhotes:<br />
Ali estava uma mãe que tinha ao redor de si os filhotes moribundos e<br />
trêmulos, e que se dirigia seus olhos não aos muros implacáveis, mas<br />
ao ar vazio ou, através do ar, ao infinito, e que acompanhava esse olhar<br />
com um relinchar de dentes! (HOFFMANSTAL, 2007, p. 12) 17<br />
Entretanto Chandos se apressa em corrigir a impressão de que esse sentimento<br />
que o tomara seria compaixão:<br />
Era muito mais e muito menos que compaixão; uma enorme participação,<br />
um fundir-se naquelas criaturas ou um sentimento de que um<br />
fluido da vida e da morte, do sono e da vigília havia passado por um<br />
instante a ela .... porém de onde? Portanto se relaciona com compaixão,<br />
com uma associação de idéias humanas compreensível, se em outro<br />
entardecer encontro debaixo de uma nogueira um regador esquecido<br />
ali por um jardineiro, e se esse regador, e a água dentro dele, escurecida<br />
pela sombra da árvore, e um escaravelho bóia na superfície dessa água<br />
escura de uma borda à outra, se essa combinação de insignificância<br />
me estremece com tal presença do infinito, me estremece desde a raiz<br />
dos cabelos até os pés de maneira que desejaria romper em palavras<br />
16 No original: “Una regadera, un rastillo abandonado en el campo, un perro tumbado al sol, un cementerio<br />
pobre, un lisiado, una granja pequeña, todo eso puede convertirse en el recipiente de mi revelación. Cada<br />
uno de esos objetos, y los otros mil similares sobre los que suele vagar un ojo con natural indiferencia,<br />
puede de pronto adoptar para mi en cualquier momento, que de ninguno modo soy capaz de propiciar,<br />
una singularidad sublime y conmovedora; para expresarlas todas las palabras me parecen demasiado<br />
pobres”.<br />
17 No original: “Alli estaba una madre que tenía alrededor a sus crías moribundas y temblorosas, y que dirigía<br />
sus miradas no a los muros implacables, sino al aire vacío o, a través del aire, al infinito, y que acompañaba<br />
esas miradas con un rechinar de dientes!” .<br />
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