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Volume 1 - Número 8 - EDUEP - Uepb

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SocioPoética - <strong>Volume</strong> 1 | <strong>Número</strong> 8<br />

julho a dezembro de 2011<br />

que se amplia ainda mais, pelo fato da escolha do título, em princípio, não ser<br />

arbitrária, embora saibamos que outras motivações 6 possam determiná-la, entendemos<br />

que os títulos e subtítulos, embora nem sempre de forma explícita, em geral,<br />

apresentam-se, como é o nosso caso, como reveladores 7 , induzindo-nos a uma dada<br />

leitura do texto.<br />

No propósito de sistematizar a relação entre estes elementos paratextuais e o seu<br />

texto, Genette propôs dois tipos dominantes, com modulações e modalidades de<br />

transição: os temáticos e os remáticos.<br />

Qualificarei de temáticos todos os títulos assim lembrados, por uma<br />

espécie de sinédoque generalizadora que será, se quisermos, uma homenagem<br />

à importância do tema no conteúdo de uma obra. (GENETTE,<br />

p.77, 2009)<br />

Os temáticos apontam para elementos do conteúdo do texto (personagens,<br />

enredo, espaços, situações, etc.); enquanto os remáticos se referem a características<br />

de natureza quase sempre arquitextual.<br />

Como exemplo desta dimensão ‘tagarela’ do paratexto, observemos o título<br />

principal de uma conhecida obra de João Cabral, o qual se apresenta numa forma<br />

mista e complexo, visto que, estruturalmente, divide-se em título e subtítulo e compreende<br />

elementos temáticos e remáticos: Morte e Vida Severina: Auto de Natal<br />

Pernambucano. Por um lado, o título, Morte e Vida Severina, tematicamente, referese<br />

à dialética, persistente em toda a obra, ou seja, uma tensão entre a Morte como<br />

convite ao desespero e a Vida como convite à esperança; por outro lado, o subtítulo,<br />

Auto do Natal Pernambucano, rematicamente, refere-se ao gênero dramático, na<br />

forma singular do Auto 8 .<br />

Ainda mais. O título denuncia a tensão, essência do dramático (STAIGER, 1977,<br />

p.147), que alimenta o ritmo cênico de todo o drama, qualificando e intensificando<br />

a sina que marca os personagens, através do modificador severina, indicador de severidade.<br />

O subtítulo, também, além de se confessar religioso – Natal – também se<br />

apresenta como representante de uma forma típica – Pernambucano. Assim, somos<br />

informados, através do paratexto, de que se trata de um Auto de Natal, cujas raízes<br />

6 Como, por exemplo, as de natureza editorial, efeito estético, sonoro, censura política ou religiosa, interesse<br />

comercial, dentre outros.<br />

7 Uma da provas do poder revelador do título é que, mesmo quando se pretende ocultar os sentidos dominantes<br />

de um texto ou revela-lo por enigma, persiste tanto o seu poder de concentrar a atenção do leitor,<br />

que toda a leitura passa a ser uma busca do seu sentido oculto, ocasionando uma pluralidade de interpretações<br />

e uma inútil discussão sobre o sentido intencional do autor, já que, depois da objetivação do discurso<br />

na escrita, o que interessa mesmo é a intenção do texto. Tal fato pode ser exemplificado com O Nome da<br />

Rosa, de Humberto Eco ou A Hora da Estrela, de Clarisse Lispector, entre tantos.<br />

8 O Auto é um tipo de representação dramática, de fundo eminentemente popular, de provável origem<br />

portuguesa (séc.XV), que versa sobre conteúdos religiosos ou profanos.

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