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Volume 1 - Número 8 - EDUEP - Uepb

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SocioPoética - <strong>Volume</strong> 1 | <strong>Número</strong> 8<br />

julho a dezembro de 2011<br />

É importante observar que a prática da verdade não está dissociada daquele que<br />

pede pela virtude e deseja alcançar a luz. Esse projeto de esperança em suas confissões<br />

em parte se realiza (volo facere) no querer pôr em prática a verdade em busca<br />

da luz. O esforço de Agostinho em sua confissão tem como objetivo não somente<br />

o resultado de um conhecimento do ponto de vista teórico, mas também do ponto<br />

de vista prático.<br />

O modo como Agostinho revela o fruto de suas confissões pouco a pouco entrelaça<br />

os textos bíblicos à figura de Cristo. Em Confissões X, iv, 6, marca a escrita com<br />

as palavras: secreta alegria com tremor e secreta tristeza com esperança. Ao iniciar o<br />

livro com a prece, mostra que Deus ama a verdade. Esse mesmo texto entrelaçado<br />

à Bíblia apresenta a secreta sabedoria; a sabedoria é introduzida ao texto como a<br />

figura de Cristo perdoador.<br />

A intencionalidade já está sendo marcada quando Agostinho dirige a questão<br />

a si mesmo, ao revelar quem é para aqueles que participam da mesma condição<br />

do amor de Deus e são filhos de Adão (Salmo 106,8): condição de finitude, de<br />

cidadãos mortais e peregrinos. A tecelagem do texto da Escritura com a escrita das<br />

Confissões revela a ambivalência de sentido ao revelar pouco a pouco o fruto de suas<br />

confissões: quem é. Simultaneamente, revela em paralelo com as Escrituras a figura<br />

de Cristo, o Deus imutável, o cuidado (Salmo 16,8; 61,2) permanente em relação à<br />

fragilidade humana. Há sempre a presença da ausência tecida no texto.<br />

Esse mesmo parágrafo de Confissões X, iv, 6 mostra que sua confissão é feita não<br />

somente com palavras, mas com obras, sob o cuidado de Deus. E, conforme Anne-<br />

Marie la Bonnardière, 27 aponta para o paradoxo de sentido da “ipseidade”, longe<br />

de fechar em um “ser para si”, ou um “ser em si”, mas como um “ser com”. O ser<br />

transcendente é um ser condescendente e um ser em relação com seus filhos:<br />

“Sou uma criancinha, mas o meu Pai está sempre vivo e ele é para mim<br />

um tutor de confiança; ele é o mesmo (Salmo 101,28; Hebreus 1,12)<br />

que me gerou (Salmo 2,7) e me protege, pois tu és todo o meu bem,<br />

tu, o Onipotente, que estás comigo e antes que eu estivesse contigo.<br />

Revelarei, pois, a tais pessoas, a quem me mandas servir, não quem fui,<br />

mas quem sou e quem ainda sou; mas não julgo a mim mesmo 28<br />

Desse modo, Agostinho mostra a existência do paradoxo da filiação (participação)<br />

que acompanha a ip’seidade, nos fios das tramas da intenção da confissão.<br />

O texto bíblico faz a trama da afirmação, da transcendência, da possibilidade, da<br />

ultrapassagem, da correlação “de” Deus “para” o homem” e “do” homem “para”<br />

Deus. O homem não consegue se imaginar sem o seu Pai, e o Pai não abandona a<br />

imagem do filho.<br />

27 BONNARDIÈRE, Anne-Marie la. Saint Augustin et la Bible. Paris: Éditions Beauchesne, 1986, p.<br />

161.<br />

28 Conf. X, iv, 6.<br />

163

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