D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...
D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...
D - SANTOS, JOSALBA FABIANA DOS.pdf - Universidade Federal ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
toda a narrativa, como o desenlace de episodios, por exemplo. O que estabelece o<br />
esquematismo é a tradição, não no sentido de transmitir algo morto, ao contrário,<br />
tudo aquilo que é transmitido está ainda completamente vivo no universo da<br />
produção poética, caso assim não fosse não poderia ser transmitido. Além do mais,<br />
a singularidade que cada obra retém garante uma perpétua inovação. No entanto, a<br />
inovação também é delimitada por regras e pode ser condicionada ao ponto de criar<br />
obras típicas, tornando-se assim tradicionais.<br />
Nesta altura já ficou claro o que seja mimese III: o momento em que o mundo<br />
do texto efetivamente se cruza com o mundo do leitor. Segundo Ricoeur, esse<br />
entrecruzamento já era percebido, naturalmente não na mesma medida, na Poética:<br />
"[...] quando [Aristóteles] diz que a poesia 'ensina' o universal, que a tragédia,<br />
'representando a piedade e o terror, ... realiza uma depuração deste gênero de<br />
emoções', ou ainda quando evoca o prazer que temos de ver os incidentes<br />
aterrorizantes ou lamentáveis concorrerem para a inversão de sorte que constitui a<br />
tragédia - significa que é bem no ouvinte ou no leitor que se conclui o percurso da<br />
mimese." (RICOEUR, 1994, p. 110).<br />
O filósofo francês inicia sua discussão sobre mimese III exatamente tratando<br />
de um possível círculo vicioso que esse tipo de análise, que começa na pré-<br />
compreensão, passa pela narrativa e termina na recepção de uma obra, poderia vir a<br />
causar. Ricoeur defende a idéia de que esse círculo não seria exatamente um<br />
círculo, muito melhor pensá-lo em termos de espiral, o que tornaria a mera repetição<br />
absolutamente impossível. A avaliação em termos de espiral é no mínimo coerente,<br />
visto que o leitor jamais lerá a obra que foi escrita pelo seu autor, assim como o<br />
autor jamais conceberá a obra que será lida pelo seu leitor. Ou seja, o leitor não<br />
17